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Raul Kodama

São Paulo / SP - Brasil
107 anos, Militar Reformado

Minhas origens


Quando eu era criança, não sabia que meus pais tinham vindo do Japão. Eles nunca me contaram nada; só falavam sobre coisas de trabalho. Então, eu brigava com todo mundo que me chamava de japonês. Não admitia ser chamado assim.

Só descobri que era descendente de japoneses aos 10 anos de idade, quando a colônia japonesa começou a chegar a Presidente Prudente. Aí ouvi falar que meu pai, Ryoichi Kodama, tinha vindo para o Brasil no navio Kasato Maru. (Assista ao vídeo da história da viagem de Ryoichi, contada por Alice Kodama, esposa de Raul. Veja também outros vídeos).

Meus pais conversavam entre si e comigo em português. Os costumes em casa eram brasileiros. A gente não fazia festa no oshoogatsu (Ano Novo) como os japoneses. Minha mãe fazia comida especial no Natal: bolo, frango. Nossa alimentação era feijão, arroz, farinha, carne-seca.

Fomos morar em Presidente Prudente, em 1926, eu tinha 9 anos. Meu pai comprou um caminhãozinho “pé de bode” para trabalhar fazendo carreto. Minha mãe lavava roupa para os outros e eu ajudava na entrega.

Quando eu era moleque de rua, entre 9 e 10 anos, tinha uma vida divertida. Brincava de pião, pipa e biroquinha (bolinha de gude) com outros brasileiros. E fazia bico como engraxate, para comprar bala e ir ao cinema.

Com 10 anos, comecei a trabalhar numa oficina mecânica. Aos 15 anos, já trabalhava como chofer de caminhão. Eu sempre consertei tudo sozinho, nunca mandei para a oficina.

Entrei na escola japonesa e não entendia nada. Os outros meninos me xingavam de “bakatarê” (bobo) e eu ria. Quando descobri, comecei a brigar com todo mundo e quebrei a escola. Eu resolvia tudo no braço mesmo.

Depoimento à jornalista Kátia Arima
Fotos: Alexandre Schneider e arquivo pessoal de Raul Kodama
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes


Enviada em: 11/10/2007 | Última modificação: 29/10/2007
 
« Vida em São Paulo

 

Comentários

  1. Yassuda Renato @ 11 Jan, 2008 : 13:01
    Prezado sr. Raul Kodama; Achei muito interessante seu relato de vida, que em alguns tópicos se assemelha bastante com minha história de vida. Meu avô, que também se chamava Ryoichi, como seu pai, também não ensinou o idioma nem os costumes japoneses aos seus filhos. Portanto eu também sabia muito pouco sobre a terra de meus ancestrais. Somente bem recentemente vim a conhecer a história de nossa família no Japão. Outro fato interessante é que o senhor serviu na II Guerra Mundial. Também tenho um tio, já falecido que era casado com minha tia Casuhê, cujo irmão mais velho serviu na II Guerra Mundial na Força Expedicionária Brasileira como oficial médico. Seu nome era Massao Udihara e ele esteve na Itália em 1944-45. Quem sabe o senhor conheceu ele. Gostaria que o senhor pudesse ler minha história também. Seria uma honra. Obrigado.

  2. carlos @ 13 Jan, 2008 : 01:54
    Muito bonita essa historia mesmo. A pena que os japoneses que moram no Japao nao dao a minima para isso. Para grande parte dos japoneses que estao no Japao, essa historia dos japoneses que foram para o Brasil, e ignorada e estes sao considerados traidores da patria.

  3. Abel Shigueto Hirata, abel@hirataimoveis.com.br @ 13 Mai, 2008 : 22:02
    Sr. RAUL, sou filho do Sr. Ossamu Hirata (vulgo João Gordo) que morava em Pres. Prudente. O meu pai conviveu muito intimamente com seus pais e seu irmão CARLOS, nas décadas de 40 e 50, ele frequentava muito a casa da Av. Mel. Goulart (casa da foto), onde levava o carro para o CARLOS consertar. Eu, na época tinha entre 4 e 7 anos, lembro-me que, vivia comendo guloseimas que seus pais me ofereciam. Quando meu pai levava o carro para conserto, entregava alicate e chaves de fenda para o CARLOS, quando ele estava debaixo do veículo. Fiquei sabendo do falecimento de seu pai, através de jornais, isto me deixou triste, porém, trouxe muitas lembranças boas da época, em que ele me carregava nas costas (brincando de cavalinho). Tive o prazer de conhecê-lo, numa das vezes em que o senhor visitou seus pais, ocasião em que o meu pai comentou a seu respeito. Sinto-me orgulhoso e honrado de ter convivido com seus pais (primeiros imigrantes). Parabéns, pelo exemplo de civilidade e patriotismo. O senhor lutou como um verdadeiro "samurai"...

  4. Hélio Gadelha @ 20 Jun, 2008 : 11:17
    Gostaria de me comunicar com Nelson Kodama, estudei com ele no Colégio Militar do Rio de Janeiro, meu email é gadelhaadv@hotmail.com, ou pelo fone: (81) 3466.761, (81) 9111.1957, (81)8647.9872, fico no aguardo

  5. G.A.A. @ 15 Dez, 2009 : 06:56
    Senhor Kodama Escrevi um conto infanto-juvenil baseado na história da vinda de um garôto japonês ao Brasil, via Perú, Manaus, Belém, Santos >>> Presidente Prudente. Já o tenho traduzido ao Castelhano, Haketía(dialeto espanhol do Marrocos)e Japonês. Necessito contato (email) de escolas japonesas desta área para solicitar desenhos escolares para uso nas ilustrações do livro. Ajude-me, por favor>>>>> kxyzbahia@hotmail.com<<<<<<<<

  6. edson l. de marchi @ 1 Nov, 2011 : 08:57
    Ha alguns anos o sr Raul Kodama esteve em Sao Bernardo do Campo, em 20 de novembro. Na inauguracao de placa comemorativa na Paraça do expedicionario, conversamos e nos contribuiu com a gloriosa historia de sua vida. Tiramos uma foto juntos, sr Raul Kodama, eu e acredito que o atirador Damasceno do TG de SBCampo tambem. O orgulho que temos as Forças Armada e principalmente ao Expedicionarios da Segunda Guerra, fazem-me orgulhoso em conhecer o Sr Kodama pessoalmente. Para meu registro de vida voces poderiam enviar-me uma copia desta foto. antecipadamente agradecido e orgulhoso em conhecer Sr Kodama. edson l. de marchi email luizdem@ig.com.br ou demarchi@kbonet.com.br

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