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Katsuyuki Vittor Nakai

São Paulo / SP - Brasil
48 anos, administrador

A aventura dos meus pais


Tudo começou, como em muitas outras histórias, com um espírito aventureiro e um desejo muito grande de ver algo além do dia-a-dia e fugir de um “destino” que com certeza seria mais seguro e estável, mas que não realizaria um sonho. Quantas vezes me perguntei, nas épocas mais difíceis de crise financeira, por que meu pai havia decidido vir para uma “República de Bananas”, onde o governo não governa (ou melhor, governa para si) e a situação econômica era desesperadora?

Não sei quando começou, nem o dia, nem a hora. Só sei onde: Belém do Pará.
Foi por lá que um rapaz sonhador entrou no Brasil, sem falar uma única palavra em português, graças a um programa de intercâmbio do governo japonês em uma fábrica de fósforo. Com um nome difícil para um país que ainda se acostumava com os japoneses, ele foi “batizado” de Paulo. E foi esse Paulo que se apaixonou pelo Brasil, e voltou para o Japão contando histórias para minha mãe, que, também com um espírito aventureiro não muito comum para as japonesas da época, decidiu vir para o Brasil. Como em uma história de amor, casaram-se e mudaram-se sem o consentimento dos pais da noiva, mas assim vieram. Primeiro meu pai, e depois minha mãe, sozinha, também sem falar uma única palavra em português. Em Belém nasceram as minhas duas irmãs, e, em busca de maiores oportunidades, meus pais resolveram se mudar para São Paulo, onde nasci dois anos depois.

Lembro-me de uma família intinerante, que se mudou várias vezes, passando pelos bairros da Bela Vista (onde fui registrado) e Aclimação, até criar raízes nos arredores de Santo Amaro, longe da “colônia”. Em Santo Amaro, com meu nome incomum e na ordem inversa da maioria dos descendentes (primeiro o nome japonês e depois o nome brasileiro), desejei muitas vezes não ser japonês pelas inúmeras gozações que sofria, tanto pela minha origem como pelo meu nome, e pelo fato de não estar acostumado à cultura tiradora de sarro do brasileiro.

Uma das memórias mais marcantes que tive foi a da desilusão do meu pai com o Brasil, após ter sido passado inúmeras vezes para trás por confiar nas palavra das pessoas, somado às inúmeras crises e planos econômicos fracassados, sobretudo o Plano Collor. Também me marcou, quando passadas as dificuldades, a sua decisão de se naturalizar brasileiro.

Outra forte lembrança é a do primeiro dia de aula no jardim da infância. Até então eu não falava português e só havia freqüentado a escolinha japonesa (youtien), e todos na sala pensavam que eu era mudo. Na época do ginasial tinha duas escolas: uma de japonês, pela manhã, onde eu era mais um japonês, e a outra do bairro, à tarde, onde eu era “o japonês”. No colegial, estudando no Bandeirantes, tive o primeiro choque ao tomar contato com a “colônia” e as brigas tradicionais da época entre as colônias e entre os japoneses.

Mas foram essas brigas, o convívio com outros descendentes de japoneses, a participação em um grupo escoteiro da colônia japonesa e, sobretudo, a minha viagem como “arubaito” ao Japão que me fizeram entender o que é o Brasil. Nessa viagem, me vi sendo um estrangeiro no país que supostamente deveria ser a minha pátria. Se no Brasil era o japonês, no Japão era o “gaijin”, ou o estrangeiro. Isso me deixava absolutamente confuso, com uma sensação de sem pátria, e ao indagar meu pai sobre isso, a resposta veio da maneira mais sábia possível: “Jamais se esqueça de quem você é: um japonês. Mas também jamais se esqueça que você também é um brasileiro. Não fique querendo se decidir quem você é: pegue o melhor dos dois e seja um japonês brasileiro”. Por mais simples e óbvio que fosse essa resposta, foi algo que me fez entender cada vez mais esse País, com todas as suas virtudes e defeitos.

Hoje meus amigos são predominantemente orientais, não por escolha, mas por toda história da minha vida. E mesmo em minha busca por Deus, acabei congregando em uma Igreja Cristã predominantemente de japoneses. E eu que dizia que nunca iria me casar com uma oriental, me vejo hoje casado e feliz com uma sansei.

Se viveria em outro país? Apesar de tudo o que acontece no Brasil, não consigo me imaginar em outro lugar. Acho que herdei o gene da paixão por esse país.


Enviada em: 11/10/2007 | Última modificação: 11/10/2007
 

 

Comentários

  1. Evelyn Munakata @ 7 Set, 2008 : 19:53
    Me emocionei com sua história. Com certeza, o seu espírito aventureiro e a sua determinação foram heranças de seus pais. Na foto, qual caipirinha é você? bjo

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