Conte sua história › Kaoru Ito › Minha história
Nesta casa eu dou aula de pintura e a minha mulher, que é nissei, dá aula de língua japonesa. Eu ensino 28 tipos de pintura. Pintura clássica, sumiê, shodô (caligrafia), arte moderna, arte abstrata. É muito difícil saber várias técnicas, mas eu tive a oportunidade de conhecer tudo isso por causa do treinamento que eu tive no Japão. E eu pinto com todas elas. Parece até que são pintores diferentes.
Ultimamente, eu tenho pintado mais deusas. São deusas orientais. É uma coisa que me puxa. Eu sou católico, mas estou de olho em todas as religiões. Budismo, Seicho-No-Ie, Soka Gakkai, eu conheci todas. Não é ruim. O ensinamento é uma coisa só. A gente aprende muita coisa boa. Atualmente estou estudando Moralogia. Não é religião, é ciência, original do Japão. Ela ensina a prática do desenvolvimento pessoal.
Eu sou japonês, mas passei a juventude no Brasil. Tenho um pouco dos dois. Na hora em que eu estou me sentindo bem, eu sou brasileiro. Quando não estou me sentindo bem, eu sou japonês. Se eu erro o desenho, eu não me sinto brasileiro. Eu me sinto japonês, miudinho, e me culpo porque errei. Quando tudo dá certo, aí me sinto brasileiro.
Minhas três filhas são brasileiras, mas hoje moram no Japão. Elas foram comigo em 1978. Na época, a mais nova já tinha 16 anos. Fizeram escola no Brasil e só falavam português. Nada de japonês. Depois de dois anos lá, quiseram voltar. Aí encontraram namorados e acabaram ficando. Quando eu resolvi vir embora, elas não queriam vir mais. As três acabaram casando com japoneses. E uma delas é professora de dança. Ensina samba.
Nenhuma delas voltou para o Brasil desde então. Uma delas até queria, mas eu falei para não vir. Vem aqui para sofrer? A família nem fala português. Eu sempre digo: esquece. Não quero preocupação da família. Eu me comunico muito pouco com elas, gosto que sejam bem livres. Se você se preocupar demais, não faz nada. Mas no coração elas sempre estão. Sempre me lembro delas.
Depoimento ao jornalista Xavier Bartaburu
Fotos: Carlos Villalba
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil