Conte sua história › Kaoru Ito › Minha história
De volta ao Japão, encontrei uns japoneses que viviam no Brasil e estavam de férias. Eles me falaram muito bem daqui, que tinha bastante comida, muita fartura. Eu me interessei. Não fiquei nem uma semana no Japão e já vim para o Brasil. Vim para ficar seis meses trabalhando. Em 1955, com 18 anos, embarquei no Burajiru Maru. Foram 48 dias de viagem. Uma viagem bonita, que ia parando em cada porto: Los Angeles, Canal do Panamá, Belém, Salvador, até Santos.
Chegando aqui, fui morar com uma tia que tinha casa no interior, em Parapuã (SP). Era perto de Bastos, e o trem da ferrovia Paulista passava por ali. Mas fiquei pouco tempo lá, uns quinze dias. E vim para São Paulo. Com a pasta de desenhos embaixo do braço e sem falar português, comecei a andar à procura de trabalho. Só me comunicava em inglês. Quando eu não conseguia me fazer entender, desenhava num pedaço de papel.
Uma agência de publicidade gostou do meu trabalho e me contratou como desenhista de aerógrafo. Era um salário bem alto. O que interessava pra mim era arranjar emprego pra ficar só seis meses. Mas, depois de três meses, vi que eu poderia ganhar mais se trabalhasse por conta própria. Naquela época, era pouca gente que trabalhava com aerógrafo no Brasil. E meu trabalho era um dos melhores de São Paulo.
Aí, fui ficando. Primeiro montei um estúdio na Vieira de Carvalho, depois em Pinheiros, depois no Butantã. Em 1963, o estúdio já estava grande. Eu tinha 37 desenhistas. Nós criamos umas sessenta e poucas marcas, algumas famosas: Café do Ponto, Nadir Figueiredo, Lopes, Camargo Dias.
Em 1978, uma grande empresa automobilística japonesa me convidou para trabalhar no Japão. Ofereceu muito dinheiro para que eu fosse lá desenhar carro. Depois de 23 anos fora, voltei para o Japão. Junto, levei a minha esposa e minhas três filhas. Tomei um choque. Eu achava que o Brasil estava bem, mas o Japão era outra coisa. Era tudo perfeito.
Fiquei 18 anos trabalhando nessa companhia, em Tóquio. Eu fazia catálogo, folheto, manual de instruções, tudo aerografado. Quando cheguei no 13º ano, o computador já estava dominando a praça. Meu serviço era pouco. Ao mesmo tempo, eu participava de vários concursos como pintor, já tinha vários prêmios, fazia exposições internacionais. Já tinha nome. Não sobrava tempo para trabalhar na empresa. No total, ganhei 168 prêmios em vários países. Prêmio grande, de terceiro pra cima, foram 68. No Brasil, nunca ganhei prêmio grande. Só menção honrosa. Aqui tem muita política, a escolha não é pela qualidade.
No Japão, fiquei outros 23 anos. Aí, eu me separei da minha esposa e fui para a Espanha. Queria ficar por lá, pintando. Comecei a construir uma casa perto de Barcelona. Quando vi que faltava dinheiro, vim para São Paulo vender uma casa que eu tenho. Mas eu não consegui vender. E, ao mesmo tempo, conheci Tereza e me enrosquei. Nós nos conhecemos por meio do meu sogro. Eu ia beber cerveja com ele no bar, nem sabia que existia a moça. Foi ele quem me apresentou a filha. E, assim, nos conhecemos, namoramos e casamos. Agora tem que ficar aqui, né?
Depoimento ao jornalista Xavier Bartaburu
Fotos: Carlos Villalba
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil