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Seiti Sacay

São Paulo / SP - Brasil
96 anos, engenheiro

De piloto a engenheiro


Eu fabricava caminhões de madeira com machadinho, faca, serrote; brincava com brinquedos feitos por mim mesmo. Uma vez eu ganhei do meu irmão um carrinho Fiat a corda. Era dar corda e ele começava a andar. Fiquei louco, contente. Também gostava muito de aviões, fazia brinquedos de avião. Era fanático por militarismo, recebia livros do Japão que meu pai comprava. Aos 10 anos, eu sabia tudo que ia pelo mundo afora nas guerras.

Na época em que mudamos para o sítio, eu via um avião vermelho, era do Getúlio Vargas, em 1932. Por volta de 1937, o militarismo no Japão fazia a gente ser patriota pelo Japão, e não pelo Brasil. Eu lia livros de guerra, tinha vontade de ir para o Japão, que estava vencendo as guerras na China. Era fanático mesmo, queria aprender a voar, ir para a escola de pilotos na Província de Chiba, ser piloto de caça e entrar na chaminé de um navio de guerra americano.

Decidi ser engenheiro porque meu pai me perguntou se eu queria continuar os estudos – se eu iria me suceder bem ou se seria malandro. Decidi estudar, e ele me mandou para São Paulo em 1947. Meu pai tinha medo de eu não me tornar grande coisa, então pelo menos aprendendo uma profissão teria dinheiro para comer. Estudei na Escola Técnica Getúlio Vargas, onde aprendi a fazer transformador e motores, e a gente ganhava uma diária e uma merenda. Foram três anos de curso. Meu pai morreu em 1948. Depois disso a minha mãe veio morar em São Paulo comigo.

Todo mundo do interior vinha para São Paulo. Nessa época ninguém queria ficar no interior, tudo ficava concentrado em São Paulo: a gente podia ler jornal japonês, ler revistas. Tinha uma comunidade bastante ativa, lojas para comprar produtos japoneses, e assim por diante. Para a gente, não existia outra cidade.

Meu irmão Shigero, em Birigüi, dava uma de “despachante” para amigos. Por exemplo, se um lavrador quer comprar um trator, mas não tem condição de pedir financiamento para comprar, ele confiava no meu irmão para explicar tudo isso, colocar no papel e assinar.

Meu irmão deu uma guinada e também saiu do sítio. Era sócio de um espanhol e aos poucos formaram uma fábrica de grapete (refrigerante). Iam muito bem, mas depois fechou. Meu irmão continuou como representante da fabricante de tratores Massey Ferguson. Importava peças e montava tratores em Birigüi. Ele tinha um coração muito bom, ajudou a construir o kaikan de Birigüi e foi presidente ali por vários anos. Também ajudou na reforma da escola estadual da cidade.

O governo falava que quem fizesse a escola técnica poderia prestar vestibular e continuar na profissão como engenheiro. Fiz um ano de cursinho, prestei o vestibular e passei. Nem eu mesmo esperava isso, porque naquela época a Politécnica era coisa de outro mundo. Hoje em dia forma 600 alunos, mas naquela época tinha vaga para 80. No meu ano, foram 2.000 candidatos, por isso tinha certeza de que não passaria. Mas um dia meu amigo ligou me avisando que tinha passado. O sonho nessa época passou de ser piloto de avião para o de ser engenheiro eletricista.

Entrei em 1950 e saí em 1954. Na minha turma tinha um colega chamado Paulo Maluf, que andava sempre com carro novo, era vivo como agora. Aliás, lá na Politécnica, tive outros conhecidos, como Sadao Kayano e Mario Covas. Tinha muito pouco nissei naquela época.


Enviada em: 20/03/2008 | Última modificação: 08/07/2008
 
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Comentários

  1. Carlos Akira Kato @ 21 Mar, 2008 : 11:02
    Sacay-san, não sei dizer o porquê, mas sempre que o encontrei nos eventos da comunidade, tinha vontade de conversar com o Sr. Agora, sabendo um pouco da sua vasta experiência, espero ter um tempo para conversar e conhecê-lo melhor. Abraços, Carlos A. Kato - JCI Brasil-Japão

  2. Sílvio Sano @ 21 Mar, 2008 : 23:50
    Prezado Sacay-san. O senhor é mais um exemplo vivo (e bem "vivo mesmo") das agruras passadas por nossos imigrantes ancestrais no Brasil. Bem como mais um exemplo de superação e de postos galgados por nikkeis dentro da sociedade brasileira. E agora, mesmo depois de aposentado, dedica-se a um apoio abnegado quase irrestrito às "coisas" da comunidade ("quase", devido à essa revelação de paixão pelo computador e pela internet - rs). Continua exemplar. Gokurosama e um grande abraço.

  3. Hugo Matsumoto @ 27 Mar, 2008 : 16:30
    Seiti Sakai, acompanhado da sua esposa, Dona Sanko; dedicados c/ seus filhos e na atarefada vida profissional, formam um casal q. sempre dedicou a comunidade nipo brasileira. No Nihongako São Judas Tadeu, Grupo Escoteiro Caramurú, Clube Piratininga, Bunkyo, Enkyo, e atualmente na Comissão do Centenário. Exemplo para todos nós ... Parabéns Engº Sacay. Parabéns Dona Sanko.

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