Conte sua história › Lia Tamami Funada › Minha história
Apesar de ter crescido na Associação Japonesa de Jacareí, não fazia idéia de como seria viver no Japão.
Aos 18 anos fiz planos em conhecer o Japão, mas fiquei bastante insegura por ser algo completamente diferente do que estava acostumada.
Depois de muitos anos quando meu irmão resolveu ir, tomei coragem. Corri com as documentações para ir junto. Era preciso tirar o visto, e neste dia já conhecemos a turma que iria no mesmo "baito".
Depois de uma viagem cansativa, o fuso horário não foi um problema. Chegando no aeroporto, uma van já nos esperava para levar até Kisarazu. Uma cidade portuária na província de Chiba. Estávamos entusiasmados, tudo era novidade.
Nos levaram até nosso apartamento, novinho e equipado. O único problema é que ficava afastado da fábrica. Isso nos forçava a andar 1 hora de bicicleta todos os dias (30 minutos na ida e 30 na volta).
A rotina de trabalho é pesada, horas em pé fazendo movimentos repetitivos. Pés parecendo uma batata e vasos estourados são normais.
Era permitido conversar na linha, isto ajuda a passar o tempo, rir um pouco e conhecer o motivo de cada um estar ali na batalha. O bom de ser arubaito é saber que logo, logo estará voltando para a casa. A turminha era muito animada e divertida. Fizemos muitas amizades boas.
Uma febre alta me derrubou e fiquei dias de cama. Tive sorte em ter pessoas bacanas em minha volta, que cuidaram de mim. E os dois dias de folga que a fábrica deu, por faltas de peças foi o suficiente para a minha recuperação.
O inverno é bem rigoroso. O frio corta sua pele. E foi lá que pela primeira vez, tive que andar de bicicleta com capa de chuva e sacos de supermercado amarrado nos pés, para não molhar o tênis...
A primeira vez que vimos neve foi na virada do ano. Parecíamos crianças fazendo guerrinha e montando o boneco de neve.
Pegamos terremoto e tufão. Uma sensação muito estranha de não saber o que fazer nestas horas. Nunca fui treinada para isso.
Fiquei muito impressionada com a falta de iluminação nas ruas. Passávamos em pequenas vielas iluminadas apenas com a lanterna da bicicleta.
Durante os primeiros meses o dinheiro era contado. Mas depois que termina de pagar a passagem, é possível gastar com passeios e compras.No início, temos tempo, mas não o dinheiro. Depois você tem dinheiro e não tem muito tempo. A solução era sair da fábrica já com a mochila pronta para o passeio de domingo (sem dormir, é claro). Ou você dorme, ou passeia.
De Kisarazu para Tokyo, você passa por um túnel construído no meio do mar (Acqua Line). Em Tokyo há muito o que se conhecer (Zoo Ueno, DisneyLand e DisneySea, Roppongi, Shibuya, Shinjuku, Akihabara, Asakusa, Odaiba, Harajuku, TokyoTower...)
Japão é um país maravilhoso!
Tochigi e a estação de esqui. Yokohama parece um cartão postal, Hiroshima mostra como a cidade se reergueu depois de tanto sofrimento e em Miyajima se vê animais andando livres, sem ninguém fazer mal algum a eles.
No Japão, infelizmente existem brasileiros que aprontam por lá, e isto nos causa uma “fama errada”, a ponto de anunciarem nas lojas que existem brasileiros dentro (presenciar isso, foi algo muito constrangedor).
Ficamos muito mais sensíveis, por estar longe de casa e da família, então é necessário ter muito cuidado em quem confiar. Existem pessoas más. Algumas coisas me chocaram e cheguei a dizer que não voltaria tão cedo para o Japão. Mas isso durou só alguns meses. Depois deste, fiz mais dois "baitos".
Cada "baito" novas amizades, novos passeios, novas surpresas.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil