Conte sua história › Mauro Kyotoku › Minha história
Depois da II guerra, a procura de melhores condições de vida, a família Kyotoku sob a liderança de meu pai, já casado, deslocou-se para São Paulo. As doenças e as condições da medicina no interior São Paulo tinham cobrado o seu quinhão: a família Kyotoku perdera seu chefe e dois filhos (Harumitsu e Yoshiko). Meu pai também ganhara um cunhado, que se chamava Jorge Uratsuka, já falecido (veja a quarta foto).
Meu pai tornou-se um aprendiz de eletricista e estabeleceu, junto com seus irmãos Kenkichi e Yoshizo, já falecidos, uma empresa de serviços: Aizo Kyotoku & Cia Ltda. Ele não conhecia de eletricidade, pois meu avô Takichi havia sido carpinteiro em Sapporo. Veja a quinta foto, tirada em Sapporo, nas primeiras décadas do século XX. Ela mostra a inauguração da igreja pertencente a uma comunidade católica (observe a cruz em destaque). Contaram que o meu avô teria sido um dos líderes na construção desta igreja e sofreram a marginalização típica de quem professa uma fé estranha ao meio. Em detalhes, encontramos freiras e padres alemães.
Alguém poderia perguntar qual o motivo de alguém deste nível emigrar do Japão por problemas econômicos. A realidade é que havia fome na região de Hokkaido, a crise refletiu-se no norte do Japão de forma cruel e não havia mais encomendas de casas para se construir. Meu pai não gostava de batatas e explicava que tinha sido um dos poucos alimento que comeu durante muito tempo no Japão, estava, então, enjoado delas. Observo que não era a batata que conhecemos, mas sim uma batata meio escura, a qual pode ser encontrada nas feiras de São Paulo.
Assim, com pouca tradição na agricultura e também devido a pouca necessidade de serviços de carpintaria, já que as casas no Brasil eram construídas de cimento e tijolo, meu pai teve que se reinventar profissionalmente depois dos 25 anos, como mencionei anteriormente, tornou-se um eletricista e passou a executar instalações elétricas em residências e edifícios. Por exemplo, executou as instalações elétricas da primeira fase, até o quarto andar, da Aliança Cultural Brasil-Japão.
Um dos responsáveis pela obra era o Engenheiro Ayami Tsukamoto, um dos primeiros engenheiros civis da colônia japonesa. Meu pai contava que o Eng. Tsukamoto, após a derrota do Japão, coletou dinheiro com intuito de auxiliar na recuperação da ciência japonesa, mas o governo Japonês gentilmente recusou a oferta e o dinheiro teria sido usado para comprar microscópios para a colaboração Brasil-Japão de Raios Cósmicos. Nunca confirmei esta história, pois até agora não tive oportunidade. Meu pai contava de outras benemerências e realizações do Eng. Tsukamoto, um bem sucedido fazendeiro de café do norte do Paraná e também um empresário de construção civil em São Paulo, mas estando em João Pessoa-Pb, é difícil o contato com as pessoas que estão vivas para confirmar os relatos do meu pai.
Uma outra realização importante, para os membros da diáspora japonesa no Brasil, localiza-se na Praça da Liberdade, mais conhecida pela feira semanal de produtos feitos pela colônia japonesa, aos domingos. Nesta praça encontramos o Edifício Regente Feijó, onde sua irmã Kiyoko ainda vive no apto 1310. Ao acender a luz, pode-se lembrar que os fios de eletricidade foram instalados pela empresa de serviços do meu pai e se tiver alguma curiosidade poderá apreciar, senão tiverem sido substituídos, os circuitos na caixa distribuição de energia elétrica, na qual se reflete a tradição artesanal da milenar cultura japonesa.
Meu pai e meus tios orgulhavam-se da montagem destas caixas. Os construtores também gostavam e sem o título de engenheiro, a sua pequena empresa instalou serviços de eletricidade em mais de uma centena edifícios e condomínios por toda grande São Paulo. Aperfeiçoou-se tanto, que passou a instalar serviços de eletricidade em indústrias e inclusive uma grande subestação transformadora. Nesta labuta educaram, junto com a minha mãe Hisako Nakabashi, três filhos, a Elizabeth Matsumoto – arquiteta, a Iumi também arquiteta (falecida em 1983) e eu Mauro, que faço este depoimento, professor de Física da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), todos graduados na Universidade de São Paulo (USP).
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil