Conte sua história › Mauro Kyotoku › Minha história
Como disse anteriormente sou professor da UFPB e desde 1979 moro em João Pessoa, ano em que obtive o título de Doutor em Ciências pela USP. Também sou pesquisador e publiquei 18 trabalhos em revistas de circulação internacional, basicamente em Física Nuclear Teórica. Estes trabalhos tem o objetivo maior de explicar o papel de alguns graus de liberdade dos constituintes do núcleo do átomo, mas como tenho natureza aventureira em um determinado momento da minha carreira acadêmica fiquei fascinado com a evolução do origami, para os interessados, na internet é possível saber o nível de sofisticação em que esta arte chegou, sendo o origamista Satoshi Kamiya, (http://www.origamihouse.jp/book/original/kamiya/kamiya.html) aos 26 anos um dos maiores expoentes desta arte.
Comecei a especular sobre a possibilidade das técnicas do origami serem, de alguma forma, usados para explicar fenômenos físicos, e andei estudando o assunto de forma profissional. Tentando aqui, refletindo ali, cheguei a conclusão que dificilmente a técnica do origami possa auxiliar na compreensão da natureza. O origami, na maioria das vezes, parte de um papel quadrado. Quem já procurou fazer uma papel quadrado perfeito sabe como é difícil manufatura-lo, assim gastamos muita energia para fazê-lo e a natureza sempre prefere gastar menos energia possível para construir os objetos. Assim, cheguei a conclusão de que o origami é mais uma demonstração da capacidade intelectual da mente humana em que os japoneses se destacam no panorama mundial.
Nestas minhas aventuras pelo mundo do origami aprendi que o educador alemão Friederich Froebel (1782-1851), o inventor do Kindergarten ou educação infantil, viajou pelo Japão e introduziu o origami em seu método para ensinar crianças. Em 1987, graças a uma bolsa do CNPq fui para Alemanha com dois filhos, Bernardo, nascido em 1983 e Gustavo, nascido em março do ano seguinte. Obviamente, eles foram aos kindergarten alemães e devem ter aprendido noções de origami.
Neste estágio, levamos o livro que ensina origami da Mari Kanegae, presente de minha prima Naoko Uratsuka, filha da Tia Shinko da foto. Minha esposa Virgínia Regis de Barros Correia Kyotoku, pernambucana da cidade de Brejo da Madre de Deus, local mais conhecido pelas apresentações de Paixão de Cristo na Semana Santa, não sabia origami, mas ficava com os meninos desvendando, no livro, o significado dos símbolos do origami e, entendido o processo, fizeram muitas peças. Este esforço deve ter ficado na mente dos meninos e eles passaram a confeccionar origamis. Na minha tentativa de compatibilizar técnicas de origami e o entendimento da natureza, passei a comprar livros e mais livros de origami, cada vez mais complicados. A brincadeira atingiu um nível que o Gustavo consegue facilmente, a partir da instrução dos livros, construir peças mais sofisticadas, por exemplo, àquelas do livro de Satoshi Kamiya. Para ilustrar sua capacidade inclusive de criação coloquei uma foto de um Mandacaru, este só pode ser projeto de um nordestino.
Para chegar este nível ocorreu um outro fato importante. No ano 1996, fui fazer
outro estágio de pesquisa na USP, fui com a família (aqui, deve-se incluir a Ana Clara, nascida em 1989). Meus filhos queriam aprender japonês, então os coloquei numa escola Kumon, na qual estudaram ao mesmo tempo japonês e matemática. Obtiveram destreza em matemática, mas o japonês ficou no básico, não ficaram fluentes em japonês. Entretanto nas secções do Kumon encontraram uma origamista que os ensinou a confeccionar um caranguejo. Avalio que este passo foi muito importante, pois dizem que a confecção do caranguejo com seis pernas e duas garras, foi um marco no evolução do origami. Antes disso apenas construíam-se peças que eram brincadeiras de criança. Meus filhos ficaram muito animados depois que puderam confeccionar caranguejos e fizeram muitos deles.
Além do Kumon e do origami, meus filhos aprenderam música parcialmente pelo método Suzuki, para quem não conhece este método uma visita ao sítio a seguir http://www.suzukimethod.or.jp/index (em inglês) é ilustrativa. O filho de um fabricante de violinos foi fazer um estágio na Alemanha. Lá, Suzuki sensei observou que crianças na mais tenra idade aprendiam línguas com facilidade e desenvolveu um método para ensinar violino emulando o aprendizado línguas.
Os Estados Unidos são, depois do Japão, o local onde houve maior acolhimento deste método. Há um filme estrelado por Meryl Streep chamado Music of the Heart (Musica do coração), no qual se pode apreciar uma aplicação parcial do método Suzuki. Como no filme, meus filhos não seguiram rigorosamente as muitas etapas deste método, apenas usaram as partituras e os CD’s.
Uma das características da cultura educacional japonesa é a repetição. Tanto no método Suzuki como no Kumon a repetição é levada a exaustão. Isto deve ter se originado do aprendizado do Kanji, pois para memorizar os mais de 2000 kanjis e suas interpretações os meninos, jovens e adultos têm que repeti-los muitas e muitas vezes.
Qual é o resultado de tudo isso? Imagino, em primeiro lugar, que meus filhos são felizes e animados com suas perspectivas profissionais.
Bernardo, o filho mais velho, está realizando pesquisas para um trabalho de doutoramento na Universidade de Cornell (uma das mais conceituadas universidades americanas) na cidade de Ithaca, no estado de Nova York, com financiamento do CNPq. Graduou-se em Física pela UFPB em 2005. No ano anterior ficou um ano estudando, em um programa de intercâmbio, na Universidade de Manchester, onde se saiu muito bem, mostrando o bom nível de seu aprendizado aqui na UFPB, ao se classificar no terço superior no primeiro semestre de sua estadia na Inglaterra. Completou o mestrado em 2006, na UFPE, e atualmente ele trabalha no desenvolvimento de processadores para uma tarefa específica com aplicações em instrumentação médica. Ele é dono de um blog (http://docstudentlife.blogspot.com/) mas suas atividades não permitem constante atualização, tenham paciência.
Gustavo, em 2006 graduou-se em Engenharia Química pela Universidade Federal de Pernambuco e é atualmente Engenheiro de Processamento da Petrobrás e trabalha na cidade de Macaé no Rio de Janeiro.
Sintetizando, descrevemos de que maneira as ferramentas educacionais do Japão contemporâneo (Kumon e Suzuki) e antigo (origami) auxiliaram no aperfeiçoamento educacional de nossos filhos. Finalmente, deve-se falar da minha filha mais nova, Ana Clara, ela esta no segundo período de seus estudos universitários, cursa Engenharia Civil e ela vai bem na escola, não demonstrando dificuldades no aprendizado de qualquer assunto, mas não há demonstração excepcionalidade, como também não demonstraram os outros meus filhos.
Este depoimento tenta mostrar um papel da componente japonesa na educação dos meus filhos, mas deve-se mencionar que parte principal cabe ao sistema educacional brasileiro, que com todos os defeitos e virtudes, foi aqui na Paraíba que os meus filhos aprenderam a ler, escrever, redigir, contar, resolver problemas, conhecer a história e geografia do país e do mundo, assim como biologia, química, física e tantos outros assuntos.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil