Conte sua história › Mauro Kyotoku › Minha história
A Olimpíada Brasileira de Física (OBF) é uma atividade permanente da Sociedade Brasileira Física (SBF) e tem como objetivo estimular o estudo de Física, conhecimento fundamental para o desenvolvimento tecnológico de uma nação. Como se pode concluir do próprio nome, seleciona alunos brasileiros para competirem nas Olimpíadas Internacionais de Física ou International Physics Olympiad (IphO) organizadas anualmente em diferentes países do mundo e, no ano passado (2007) foi realizado no Irã. Foi nesse ano que o Japão participou oficialmente pela primeira vez. O sistema escolar japonês não costuma premiar os melhores alunos e organiza-se para homogeneizar as turmas. Mas, aparentemente, isto esta se modificando e o Japão se destacou na IPhO, obtendo diversas premiações no mais alto nível (medalhas de ouro).
Assim como os japoneses internacionalmente, os nipo-brasileiros se destacam nesta competição no país, pode saber o desempenho destes descendentes de japoneses no sítio da SBF. Como era de se esperar, estes se concentram principalmente em São Paulo, mas na Paraíba, onde sou o Coordenador Regional desta atividade, tivemos um destaque digno de registro, o aluno Rodrigo Massao Yoshinara de Albuquerque (mãe paranaense, falecida, e pai paraibano) ganhou menção honrosa em 2004 e medalha de ouro em 2005. Dos alunos do segundo ano de ensino médio no Brasil que se submeteram as provas da OBF em 2005, Rodrigo ficou entre os 15 melhores, foi um feito e tanto.
Atualmente, é aluno de Engenharia Elétrica na Universidade Federal de Campina Grande. Ele contou que sua mãe morreu quando ele era criança e foi educado pela avó e a tia, irmã de seu pai, mas tem a garra e a persistência característica dos japoneses ou dos imigrantes, que inclusive muito estão perdendo, mas permanece individualmente, nas multi-etnias que formam o caldo cultural brasileiro.
Esperamos que a sociedade brasileira tenha condições de apoiar este talento para que possa dar vôos maiores e assim orgulhar todos nós.
O último assunto que gostaria de mencionar são os meteoros, mas antes um assunto paralelo. O Brasil tem uma longa colaboração, desde a década de 50 do século passado, para estudos de Raios Cósmicos com o Japão, a parte brasileira concentra-se na Unicamp, cujo líder foi o celebre Prof. Cesar Lattes. O laboratório onde se detecta os mesmo localiza-se no monte Chacaltaya na Bolívia, a mais de 4000 metros de altura, para quem não se lembra, Cesar Lattes descobriu o meson pi a partir de Raios Cósmicos, sendo este trabalho uma das contribuições brasileiras mais importantes para a ciência internacional.
Atualmente, existem vários grupos no mundo procurando Raios Cósmicos Altamente Energéticos (RCAE). Um deles é liderado por Hélio Takai, que nasceu em Marília e cresceu em Maringa no Paraná, atualmente é pesquisador do Laboratório Nacional de Brookhaven e professor do Universidade de Nova York, em Stony-Brook, em seu sítio (http://www-mariachi.physics.sunysb.edu/wiki/index.php/News:Brazilpress) estão anexas duas reportagens da imprensa brasileira sobre as suas atividades, do jornal Estado de São Paulo e do Jornal do Nikkei. Por impressioná-los Hélio foi contemplado pela agência de fomento a pesquisa americana, NSF (o CNPq americano) em mais de um milhão de dólares, num prazo de cinco anos, para procurar os RCAE.
Acredita-se que os RCAE produzam, ao entrarem na atmosfera algo semelhante a um raio elétrico, mas em forma de chuveiro. Estas múltiplas gotas tornam-se centro espalhadores de ondas eletromagnéticas e o Hélio escolheu os sinais da televisão aberta para serem espalhadas. Estas ondas espalhadas são detectadas em antenas, armazenadas e interpretadas num computador. Estes eventos RCAE são raríssimos e para detectá-los é necessária uma área muita grande. Foram mobilizados para esta busca, vários laboratórios em escolas de ensino médio em torno da cidade Nova York e conectados através de rede computadores. É neste ponto que entramos, pois existe a necessidade de muitas antenas, muitos computadores, muitos GPS e outras ferramentas para detectar e interpretar corretamente os sinais do céus.
No Brasil, existem, até agora, sistemas de parcial de detecção no Rio de Janeiro, Santa Catarina e João Pessoa. Existe o interesse que mais laboratórios associem-se a este esforço. O sítio Mariachi, mencionado anteriormente, é um bom início ver-se existe o seu interesse em somar-se e/ou acompanhar este esforço.
Para chegar conclusão inequívoca de que os RCAE atingiram a superfície terrestre, são necessários espalhar detectores de cintilação e outras ferramentas relativamente caras. Sugeriu-se que antes poderíamos detectar meteoros, pois estes ao entrarem na atmosfera terrestre formam traços de luz, as estrelas cadentes são exemplo disso. Estes traços de luz podem ser tratados de forma semelhante aos traços de RCAE, e no momento estamos nos preparando para “caçar” meteoros na Paraíba.
Assim, com 60 anos de idade, seguindo o exemplo de meu pai, que se reinventou como profissional aproximando-se dos trinta anos, tento me reinventar como pesquisador. Se teremos sucesso ou não nesta nova aventura veremos a médio prazo. Mas um aspecto é claro: no momento estamos trabalhando em equipe, realizando reuniões internacionais através de uma infra-estrutura cibernética, e, com isso, demonstramos que o isolamento que os primeiros imigrantes sentiram há cem anos não é mais um fardo para a continuidade da existência humana.
As opiniões emitidas nesta página são de responsabilidade do participante e não refletem necessariamente a opinião da Editora Abril
Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil