Conte sua história › Ilka Mina Akinaga › Minha história
Bachan, batiam, obaachan, bá. Não importa a escrita nem o jeito como a chamamos. A palavra japonesa para “avó” é mais que uma simples tradução. As bachans são as maiores responsáveis pela transmissão da cultura japonesa através das gerações. Claro que não se pode esquecer os jichans (avôs), mas essa é uma homenagem a elas. Especialmente às minhas, Shitsue, e Sachiko, que deixou muitas saudades.
São elas que fazem aquela comida caseira que não se encontra em nenhum restaurante japonês. Algumas receitas tão antigas que até no Japão são difíceis de encontrar. Especiarias que todo mundo compra prontas, elas fazem questão de preparar em casa e distribuir pros filhos. Por mais que comida de mãe seja a melhor do mundo, tem coisas que só a bachan faz. Elas sabem nossa comida preferida e não poupam esforços para fazê-la quando vamos visitar. Mesmo aparecendo de sopetão, sempre tem alguma coisa gostosa para beliscar. Parece até que elas adivinham.
São elas que têm remédio para tudo, ou um remédio milagroso que serve para tudo. "Toma esse chá que é a melhor coisa", "passa essa pomada que logo sara." Podemos até não acreditar na eficácia do negócio, mas quem é que vai discutir ou recusar, né?
São elas que falam em japonês com os netos desde pequenos, assim, mesmo quando pensamos que não sabemos nada de japonês, desenterramos da memória as suas palavras. Elas misturam japonês e português como se fosse uma nova língua, com gramática própria, e por incrível que pareça, todo mundo entende.
Elas usam blusa estampada, chapéu de sol e estão sempre carregando uma sacolinha de mão. Gostam de flores, costura, Rio Quente, e têm algum hobby tipo pesca, guetobooru (gateball), jardinagem etc. São baixinhas, sorridentes e cheias de energia.
É na casa da bachan que nos reunimos aos domingos, para encontrar a família toda, jogar conversa fora e comer o dia inteiro. A bachan é o pilar que une a família, é quem apóia os filhos e ajuda a criar (e mimar) os netos. É a nossa segunda casa, nosso refúgio.
Não nos esqueçamos dos ensinamentos e das boas lembranças das nossas avós e bachans, porque é parte de quem somos, como pessoas (e como nikkeis), e essa é uma parte da nossa história que não mudará nem terá fim.
Bachan, arigatô!
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil