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Marico Kawamura

São Paulo
96 anos, professora

Dedicação à educação


Meu pai trouxe do Japão meu segundo marido, Takeo Kawamura, em 1954. Como ele não falava português, não trabalhava. Eu que sustentava a casa, trabalhando como professora. Dava aulas na sala de casa, no bairro da Aclimação, no centro de São Paulo.

No mesmo ano, meus pais brigaram feio. Meu pai perguntou: “você fica comigo ou com sua mãe?” Eu decidi ficar com a minha mãe, então e fomos expulsas de casa. Nesse momento, ninguém nos apoiou. O único que nos ajudou foi o Sr M., que foi nosso avalista para alugar nossa casa.

Continuei a lecionar. Em 1953, abri a escola de língua japonesa Shohaku.

Em 1972, fiz uma viagem para o Japão, para fazer um curso de ensino de língua japonesa para estrangeiros. Fiquei decepcionada comigo mesma, pois descobri que tudo o que sabia estava errado. Rasguei meu diploma. Quem abriu meus olhos foi meu mestre japonês, Junji Oshiman.

O Colégio Oshiman, que hoje é dirigido pela minha filha, Mayumi Madueño Silva, foi construído com ajuda de muitas pessoas. Há 3 anos, estamos com sede própria. Tivemos ajuda de japoneses e brasileiros. Leciono japonês e etiqueta japonesa. Mas a escola não é voltada apenas para a cultura japonesa. Há atividades relacionadas a outras culturas, pois temos alunos de todas as etnias.

Ano sim, ano não, levamos nossos alunos para o Japão, pois temos convênio com a escola Tamagawa, de Tóquio. É um trabalho muito importante, pois mostramos a importância da paz aos alunos. Eu vi a guerra e sei que ela transforma os seres humanos em animais. Eles conhecem Pearl Harbour, no Havaí, e Hiroshima, no Japão, e vêem que para os dois lados a guerra é ruim. Eles também dão valor ao Brasil quando fazem essa viagem. Voltam mais patriotas.

Eu peço a Deus que me deixe viver mais alguns anos para cumprir duas missões: quero provar que é possível preparar no Brasil um estudante, em dois anos, depois da 8ª série, para entrar na faculdade japonesa. Outro projeto é lançar um livro sobre etiqueta japonesa, em português e japonês. Os valores tradicionais japoneses estão se perdendo mesmo no Japão e quero lembrar as pessoas esse lado belo da cultura japonesa.

Depoimento à jornalista Kátia Arima


Enviada em: 11/10/2007 | Última modificação: 11/10/2007
 
Carta escrita com sangue »

 

Comentários

  1. Carmem Susy Kawamura @ 14 Fev, 2008 : 12:57
    Sra Marico, Encontramos seu contato ao ajudar o meu filho a fazer uma tarefa da escola que pedia para falar da origem da familia. Vc tem conhecimento se O Sr Idekichi Kawamura era seu parente? Ele era meu bisavô, casado com Tei Kawamura. Vieram do Japão antes da 2ªGuerra mundial. Atenciosamente, Susy

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