Conte sua história › Marico Kawamura › Minha história
Terminada a guerra, eu queria voltar para o Brasil, mas meu pai não deixava. Minha mãe havia se convertido ao protestantismo e ele não aceitava isso. Meu pai também não gostava quando minha mãe dizia que o Japão havia perdido a guerra. Ele falava que a pior derrota é a derrota da alma.
Terminei o ginásio e resolvi cursar o shihangakko, curso de formação de professores, muito rígido. Me casei, mas não podia abandonar minha mãe sozinha. Então, meu marido veio morar na minha casa, mas não se deu bem com a minha mãe.
Em 1952, fiz um corte no meu dedo para escrever uma carta para meu pai, com meu próprio sangue, pedindo para voltar ao Brasil. Ele atendeu ao meu pedido. O problema é que a guerra havia destruído nossa família também. Depois de 11 anos de separação, o relacionamento dos meus pais não dava mais certo.
Minha mãe ficou muito triste, pois meu pai nos colocou para morar na sala de visitas. Ela ficou tão mal que pensava até em se suicidar. Dizem que devemos perdoar as pessoas, mas não consigo perdoar meu pai por ele ter feito minha mãe chorar.
Eu tinha um carinho enorme por minha mãe. Nos bombardeios, ela usava seu corpo para me proteger. Dizia: “vai estudar, filha”, mesmo precisando de ajuda no trabalho. Hoje carrego na minha bolsa um omamori (amuleto) que era dela. Assim, sei que ela está sempre comigo.
Depoimento à jornalista Kátia Arima
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil