Conte sua história › Mari Kanegae › Minha história
Sou brasileira, filha de japoneses. A gente sempre convive com o fato de as pessoas chamarem a gente de japonesa. E aí você fica se questionando: por quê? Será que com italiano é a mesma coisa? Na adolescência, isso me incomodou um pouquinho, sim. Lembro-me de um artigo que uma amiga escreveu dizendo que “poxa, eu nasci aqui, nunca fui para o Japão, nunca estudei em escola japonesa, e mesmo assim sou chamada de japonesa?” (risos). Foi o que eu queria ter falado. Mas depois você amadurece e entende que são coisas pequenas.
Hoje sei que sou bastante oriental. Sou casada, meu marido é descendente também. Nós nos conhecemos num curso de japonês na USP. Falo bastante em aula, mas não sou muito espalhafatosa, e sim mais reservada, observadora. O que vejo de melhor no brasileiro é a espontaneidade, as pessoas não dão muitas voltas para agir ou falar, são mais diretas. Você não esconde seus sentimentos, tem menos vergonha.
Numa das viagens para o Japão, no intervalo de uma aula, estava observando o pessoal conversando e uma menina que não era japonesa veio para mim e disse “você não é japonesa”. Eu pensei: como ela adivinhou? Ela era indiana, e disse que dava para perceber só de olhar. Ficamos muito amigas, até hoje nos correspondemos. Ela voltou para a Índia, mas um japonês que se apaixonou por ela foi buscá-la, e até hoje, ela continua morando lá, tem filhos e fala perfeitamente japonês.
Talvez esse ano eu ainda vá para o Japão, por causa do Centenário da Imigração. Vou buscar apoio para montar uma exposição de origami no Anhembi, em São Paulo. Quem está encabeçando isso é a empresária Chieko Aoki, e ela gostaria que artistas do Japão também contribuíssem com suas obras. Mas isso ainda estamos conversando.
Depoimento ao jornalista Leonardo Nishihata
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Mari Kanegae
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil