Conte sua história › Mari Kanegae › Minha história
Quando eu tinha 4 anos, fomos ao Japão conhecer meus avós. Eu só falava português, e eles não entendiam nada. Minha avó materna fez então um origami para mim. Foi a única forma que ela encontrou para se comunicar comigo, e isso marcou meu primeiro contato com a arte. Continuei praticando origami em casa, mais como hobby, até entrar na ECA [Escola de Comunicação e Artes da USP], em São Paulo, onde escolhi cursar licenciatura em Artes Plásticas. Para me formar, fiz estágio em uma casa de cultura no bairro de Santo Amaro, para crianças carentes.
Logo percebi que nada daquilo que a gente ensinava poderia ser reproduzido pelas crianças em suas casas, pois lá não havia tinta, guache, pincel, argila, nenhum material. Então lembrei que, quando criança, brincava de origami com jornal, revista, papel de embrulho, qualquer coisa. Pedi para as crianças trazerem de casa os papéis que estivessem sobrando, ensinei a cortar o papel quadrado, e assim começamos a fazer origami, junto com outras atividades.
Para mim foi uma experiência muito rica. Elas começaram a misturar origami com outros materiais, como argila, coisa que nunca pensei que fosse acontecer. Notei também que as crianças levavam pra casa e ensinavam a família, a mãe principalmente, e depois as mães vinham conversar comigo querendo aprender mais. Foi uma forma de conhecer a comunidade, ser convidada pra almoçar na casa dessas pessoas, e fiquei muito feliz, pois me mostrou que o origami é realmente um elo de socialização muito forte. Na verdade, as pessoas é que me mostraram a importância que o origami pode ter.
Decidi levar isso a sério e passei um ano no Japão, em 1984, para pesquisar a história, a filosofia e as técnicas. Um dia, fui a uma exposição muito bonita de um mestre de origami que, por coincidência, percebi ser o autor de um dos livros que eu tinha no Brasil, Toyoaki Kawai. Havia um concurso onde ele dava um esquema e tínhamos que preparar o origami de acordo. Ganhei o concurso e acabei me tornando sua aluna!
Foi um aprendizado que não se encontra nos livros. Quando voltei, comecei a dar aulas na Aliança Cultura Brasil-Japão onde estou até hoje, faz mais de 20 anos. Durante esse período, voltei várias vezes ao Japão para me aperfeiçoar, participei de diversas exposições, simpósios, e convenções internacionais, publiquei dois livros sobre origami e organizei outro, sobre os grandes mestres. Também mantenho contato com professores de outros países.
Depoimento ao jornalista Leonardo Nishihata
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Mari Kanegae
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil