Conte sua história › Mari Kanegae › Minha história
Meu pai é de Nagasaki e chegou a São Paulo em 1951. Minha mãe já o conhecia no Japão e viajou mais tarde para se casar com ele, quando ele já estava em Niterói, no Rio de Janeiro. Os dois vieram para o Brasil sozinhos, não tinham parentes aqui. Eram diferentes do perfil de imigrantes que trabalhavam em fazendas. Meu pai havia arranjado um emprego no Banco América do Sul e já pensava em morar aqui definitivamente. Ele sempre teve uma atitude de enfrentar a vida, explorar novos horizontes, e não ficar no Japão limitado para trabalhar somente nos negócios da família.
Naquela época quase não havia orientais em Niterói, então as pessoas olhavam com curiosidade. Eles moravam num apartamento térreo, e, às vezes, percebiam gente espiando pela janela da cozinha (risos). Meu pai acabou transferido para Londrina (PR), onde nasci, em 1957, e logo depois para Ourinhos. Lá a dona da casa onde morávamos era síria, ela alugava o andar de baixo e, às vezes, trazia comidas árabes, enquanto minha mãe dava aulas de ikebana para o pessoal.
Eu vivia que nem moleque, brincando na rua. Não falava muito japonês em casa. Meus padrinhos lá em Ourinhos eram farmacêuticos, não-descendentes e incentivaram o batizado católico. Queriam até furar a minha orelha, mas meus pais não deixaram. Minha irmã mais nova nasceu em Cornélio Procópio, no Paraná. Em 1964, mudamos de novo para São Paulo, no bairro da Vila Sônia, perto do Butantã. É um lugar onde até hoje tem muitos japoneses, e meus pais continuam vivendo ali, em outra casa.
Depoimento ao jornalista Leonardo Nishihata
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Mari Kanegae
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil