Conte sua história › Setsuo Kinoshita › Minha história
Após o trabalho com o grupo Wadaiko Yamato, retornei ao Brasil em 1999, iniciando o curso de taiko em São Paulo.
No início eu quis introduzir um taiko tradicional, no esquema original japonês: não só na forma de tocar, mas também na disciplina. E foi essa disciplina que exigiu demais dos músicos brasileiros e, no fim, não me deixou conseguir ir adiante. A proposta do taiko tipicamente japonês no Brasil não deu certo e desfiz o grupo. Eu penso que, se quiser tocar o taiko tipicamente japonês, deve se respeitar a sua cultura em todos os seus aspectos. Como no samba, se você não come arroz com feijão, você não toca samba.
Então, vi que, se fosse para fazer um trabalho no Brasil, teria que misturar. Quer dizer: tinha que aceitar a cultura brasileira também, não usar só a japonesa. Fiquei mais maleável e decidi colocar elementos brasileiros. Pesquisei sobre o samba, formei um grupo de batucada no Japão e cheguei a participar da bateria de uma escola de samba do grupo especial de São Paulo. Nesta escola, sofri uma grande discriminação de um grupo de jovens gritando que tinha um japonês no samba. Isto me entristeceu muito e resolvi então tocar o ritmo de samba que eu gostava tanto no taiko. Isso foi em 2001.
A mistura ficou interessante e resolvemos apresentar a música “Taiko de Samba” ao fundador do Kumidaiko, que é o taiko que vemos sendo tocado em palcos. Assim, fomos convidados a tocar no seu evento, o Sekai Uchikurabe Contest, que aconteceu em 2004, em Nagano, no Japão, que escolheu os dez melhores grupos de taiko inscritos do ano.
Sekai Uchikurabe Contest quer dizer algo como "o concurso dos tocadores do mundo", mas acho que todos os nossos concorrentes eram japoneses. Éramos os únicos estrangeiros. Apresentamos o taiko com samba, não ganhamos o concurso, mas só o fato desta mistura ter sido aceita já está ótimo. Isto calou as críticas que havia até então.
Desta vez, iniciamos o trabalho no lado brasileiro. Tocamos por várias vezes com o grupo de percussão Meninos do Morumbi e também com a escola de samba Unidos da Vila Maria, além de vários grupos de percussão. Todos saímos satisfeitos com o intercâmbio. Eu acho que, aos poucos, o taiko brasileiro esta sendo aceito pelos brasileiros também e, conseqüentemente, influenciando vários grupos de taiko do Brasil.
Depoimento à Nádia Sayuri Kaku
Fotos e vídeos: arquivo pessoal de Setsuo Kinoshita
As opiniões emitidas nesta página são de responsabilidade do participante e não refletem necessariamente a opinião da Editora Abril
Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil