Conte sua história › Kimi Nii › Minha história
Eu sempre fiz coisas com inspirações geométricas de formas. Mas na cerâmica tem uma limitação de tamanho, a não ser que empilhe, encaixando cada parte. Quanto maior, maior a possibilidade de rachar e quebrar. Para crescer, a cerâmica precisa de encaixes. Eu projeto módulos que se encaixam, mas de toda forma tem uma limitação. E queria fazer maior. Em todo o meu percurso [como ceramista], faço uma peça, e se a pessoa comprar, levou. De repente vejo uma outra pessoa fazer maior. É quase que gritar para ser visto... Quando fiz o Donguri de 3 metros, tive uma primeira oportunidade [a exposição Donguri, com passagens no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e no Museu Niemeyer, em Curitiba]. Eu queria que as pessoas percebessem que faço esculturas. Acham que o artesão tem menos valor, só que ele precisa ter habilidade. No Japão o artesão é um artista.
A exposição tem movimento, porque os Donguris são de madeira e giram em torno de um eixo como o pião. Donguri, koro koro... é uma canção que ficou na minha memória de infância. A história é assim: uma avelã caiu da montanha, rolou e caiu até uma represa [donguri é o fruto da castanheira, conhecida como “bolota”, o alimento predileto dos esquilos]. A enguia fala oi, vamos brincar? Eles brincaram muito contentes por um tempo. Mas a avelã, realmente, na verdade fica com saudades da montanha mãe e dá um trabalhão... chora, chora...
Essa música me lembra a última visita a um parente no Japão, antes de eu vir para o Brasil. Era um irmão do meu avô. A família tinha várias montanhas com muitas castanhas kuri, e também muito donguri lá, a gente tomava sopa de cogumelos... É um lugar onde a luz do sol entra pelas frestas. Só se vê os donguri e o silêncio. Na exposição, a luz bem fechada foca nas peças e o visitante pode mexer, é bem lúdica, como a Obra Aberta, os bichos de Lygia Clark. Geralmente no museu se diz que não pode tocar nas obras, mas se não mexer no Donguri não tem graça. O museu do Oscar Niemeyer é um lugar turístico em Curitiba, assim como o Instituto Tomie Ohtake em São Paulo. Quem não viu aqui, vai lá.
Depoimento à jornalista Patrícia Patrício
Fotos: Chi Qo e arquivo pessoal de Kimi Nii
As opiniões emitidas nesta página são de responsabilidade do participante e não refletem necessariamente a opinião da Editora Abril
Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil