Conte sua história › Kimi Nii › Minha história
Minha história é um pouco diferente, meu pai é issei e minha mãe nissei. Meu avô materno tinha muitas terras, nas montanhas onde há muito donguri. Ele se endividou, era fiador de muita gente. Então largou tudo e decidiu: “Vou para o Brasil, em dois anos volto para pagar tudo”.
Mas isso não aconteceu. Chegou aqui, mais ou menos em 1912, era outra coisa... Ele veio como imigrante e teve oito filhos. Minha mãe nasceu em 1913, quando mocinha conheceu meu pai, um arquiteto socialista. Ele tinha ideal. Tiveram dois filhos aqui e foram embora para o Japão... E aí começou a guerra. Minha mãe chegou lá, era brasileira, sofreu muito, eu penso. Viveu a guerra do começo ao fim. Quando chegaram o navio não podia desembarcar logo, havia aquelas demonstrações da Marinha e da Aeronáutica japonesa. E logo depois começou a guerra. Quando minha mãe ficou grávida, a família se mudou para a casa da minha bisavó, nas montanhas, não muito longe de Hiroshima. Meu irmão tinha uma semana de vida, minha mãe estava olhando para longe onde estaria sua casa... Olhou para o horizonte e pensou: como será que está a minha casa? Ela viu da janela o primeiro avião americano, e depois chegou mais um, esse que soltou a bomba, que fez a luz, o estrondo e logo em seguida o cogumelo. A cidade virou um incêndio. Por acaso meu pai estava em Giyon, ele trabalhava na Mitsubishi. A casa da minha bisavó salvou todo mundo. Eu nasci depois da guerra, em 1947, e tenho dois irmãos nascidos no Brasil. Vim para cá com 9 anos. É curioso que meus dois irmãos mais velhos têm o sobrenome escrito Niy nos documentos, e nós três que viemos depois, somos Nii. Meu nome, Kimi, significa beleza da árvore (veja a assinatura de Kimi Nii em kanji na Galeria de Fotos).
Depoimento à jornalista Patrícia Patrício
Fotos: Chi Qo e arquivo pessoal de Kimi Nii
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil