Conte sua história › Tamie Kitahara › Minha história
É difícil analisar o quanto sou japonesa. Com 12 anos de vida passados lá no Japão, muitas coisas ficam, fortes. Sou japonesa, mas quase brasileira nos costumes. A cabeça que a gente forma precisa entender os dois lados. Aqui tem liberdade. Claro que temos que respeitar os limites, mas temos toda a liberdade. Lá existem muitas regras, e é por isso que o país é tão rico: todo mundo respeita as regras. Olhar com essa distância ajuda a entender, dar mais valor.
Dou graças a Deus por meus pais terem me trazido para o Brasil, porque eu tive a chance de ver o mundo de uma forma diferente. Cheguei à conclusão de que ninguém pode criticar a cultura dos outros sem conhecê-la, sem analisá-la e entendê-la bem. Se eu tivesse morado a vida toda no Japão, acho que nunca teria tido essa cabeça.
De modo geral, os brasileiros são bem mais expressivos, na tristeza e na alegria, tudo é mais exagerado. Na alegria, acho que sou bem brasileira, não preciso me conter. Agora, na dor, na tristeza, a gente tenta não demonstrar muito, e isso é a parte japonesa. Uma vez o cachorro me mordeu, fui ao pronto-socorro e o médico que me atendeu dizia: “Vocês orientais agüentam a dor, né?”. No meu primeiro parto, tinha uma moça do lado gritando, chorando, chamando o marido, o pai, todo mundo. E eu me perguntando: “Para que fazer isso?”. A dor é a mesma, é uma dor horrível, mas não adianta você gritar, incomoda os outros.
Essa é outra virtude dos japoneses: sempre procurar não incomodar os outros. E tem a questão da vergonha também. Quando eu trabalho com músicos brasileiros, eles sabem fazer muita improvisação, mas os japoneses não conseguem. A gente aprende aquilo certinho, a tocar perfeito, então não sai dali, porque temos medo de errar. Brasileiro não tem vergonha, não tem medo. A cada música diferente que toco e canto, eles improvisam, e fazem diferente cada vez. É uma coisa do povo mesmo – cultura e musicalidade, acho admirável.
Depoimento ao jornalista Leo Nishihata
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Tamie Kitahara
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil