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Tamie Kitahara

São Paulo / SP - Brasil
81 anos, artista e professora

Duas formas de pensar


É difícil analisar o quanto sou japonesa. Com 12 anos de vida passados lá no Japão, muitas coisas ficam, fortes. Sou japonesa, mas quase brasileira nos costumes. A cabeça que a gente forma precisa entender os dois lados. Aqui tem liberdade. Claro que temos que respeitar os limites, mas temos toda a liberdade. Lá existem muitas regras, e é por isso que o país é tão rico: todo mundo respeita as regras. Olhar com essa distância ajuda a entender, dar mais valor.

Dou graças a Deus por meus pais terem me trazido para o Brasil, porque eu tive a chance de ver o mundo de uma forma diferente. Cheguei à conclusão de que ninguém pode criticar a cultura dos outros sem conhecê-la, sem analisá-la e entendê-la bem. Se eu tivesse morado a vida toda no Japão, acho que nunca teria tido essa cabeça.

De modo geral, os brasileiros são bem mais expressivos, na tristeza e na alegria, tudo é mais exagerado. Na alegria, acho que sou bem brasileira, não preciso me conter. Agora, na dor, na tristeza, a gente tenta não demonstrar muito, e isso é a parte japonesa. Uma vez o cachorro me mordeu, fui ao pronto-socorro e o médico que me atendeu dizia: “Vocês orientais agüentam a dor, né?”. No meu primeiro parto, tinha uma moça do lado gritando, chorando, chamando o marido, o pai, todo mundo. E eu me perguntando: “Para que fazer isso?”. A dor é a mesma, é uma dor horrível, mas não adianta você gritar, incomoda os outros.

Essa é outra virtude dos japoneses: sempre procurar não incomodar os outros. E tem a questão da vergonha também. Quando eu trabalho com músicos brasileiros, eles sabem fazer muita improvisação, mas os japoneses não conseguem. A gente aprende aquilo certinho, a tocar perfeito, então não sai dali, porque temos medo de errar. Brasileiro não tem vergonha, não tem medo. A cada música diferente que toco e canto, eles improvisam, e fazem diferente cada vez. É uma coisa do povo mesmo – cultura e musicalidade, acho admirável.

Depoimento ao jornalista Leo Nishihata
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Tamie Kitahara


Enviada em: 05/03/2008 | Última modificação: 23/06/2008
 
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Comentários

  1. Claudia Akiko @ 16 Mar, 2008 : 20:48
    Admiro o trabalho da Tamie Kitahara, uma pessoa sempre alegre e disposta!!! É mãe de uma GRANDE amiga minha, e agora eu sei de onde vem toda a garra, coragem e carisma de minha amiga Flávia!!!

  2. Setsuo Kinoshita @ 16 Mar, 2008 : 23:41
    Uma grande parceira nos shows do grupo de Taiko Wadaiko Sho !! O Brasil precisa de artístas que possam transmitir a cultura japonesa de forma correta como ela. Gambatte Sensei !!

  3. kiyomi fukushima @ 18 Mar, 2008 : 21:28
    Ela é professora e amiga, uma pessoa muito dedicada. Ensina com muito carinho desde crianças de 5 anos até as obaatians de 80 , 90 anos, participa e entende todos os problemas dos alunos, tem um coração de mãe. Um exemplo de vida.

  4. Gabriel Levy @ 19 Mar, 2008 : 09:53
    O vasto conhecimento que ela tem de diferentes repertorios, permite a flexibilidade de participar de shows do Wadaiko Sho, de gravar com a Marisa Monte, de fazer os duetos com o violonista Camilo Carrara, etc. Eu tenho aulas de shamisen com ela, e tive a alegria de contar com sua participacao em shows do Mawaca e da Orquestra Mundana.Alem disso ela tem a energia de manter varios grupos de alunos de diferentes assuntos, formando antigos e novos conhecedores da musica japonesa, tanto entre descendentes como entre nao-descendenes.O trabalho que Kitahara Sensei faz pela divulgacao da cultura japonesa no Brasil tem valor inestimavel..

  5. Kaori Kihara @ 25 Mar, 2008 : 21:58
    Como aluna, tenho orgulho de falar sobre a minha sensei! Adorooo as aulas, os treinos, apresentações, tudoo! Com certeza ela é uma pessoa muito dedicada com todos os alunos, paciente, sempre sorridente! Uma lição de vida viu...

  6. Mami @ 30 Mar, 2008 : 11:23
    Sou suspeita para falar da tia linda e ativa (como chamávamos quando ainda éramos pequenos), boa filha, esposa, mãe,tia e agora uma conceituada professora e fazendo parceria com grandes músicos. Isto é resultado da sua perseverança e dedicação. Fiquei muito contente em ler o passado que havia esquecido num canto da minha memória . Sinto muito orgulho de ti e mais força para continuar lutando. Obrigada por contar a história da família. Estarei sempre torcendo por ti.

  7. kumiko kumamoto @ 2 Abr, 2008 : 23:05
    sou aluna da kitahara sensei de minyo, há alguns anos, e tenho uma profunda gratidão e admiração, por dedicar de corpo e alma a seus alunos, da sua paciencia e perseverança, de como ela consegue tirar agua de uma rocha.Sensei doumo arigatowgozaimassu

  8. http://zoodojoo.wordpress.com @ 18 Abr, 2008 : 20:44
    Vou prestigiá-la lá na Caixa amanhã!

  9. cristiano de alcantra @ 22 Mai, 2008 : 08:00
    cem anos de imigração japonesa no Brasil e a go-en é a moeda da sorte,o Kimono é o principal vestimento la no japão com o Obi uma faixa usada na cintura e a sandalia de geta ou setta (geta-sandalia de couro)(setta-sandalia de madeira) e onome do pauzinho que eles uasam é Hashi,o kasato maru foi o naviu que trouxe 165 famílias para o brasil e eles tem as religioes budismo,seisho-no-iê e 4 alfabetos que eu não lembro bem qual são parabêns cem anos de imigração japonesa no Brasil

  10. Rita de Cássia Arruda @ 1 Jun, 2008 : 01:46
    Prezada Tamie: Foi com imenso prazer e interesse que li seus relatos. São maravilhosos. Nem saberia dizer de qual deles gostei mais. Não pude deixar de passar em revista, em minha mente, muitos dos momentos por mim e minha família vividos ao lado de Kaoru e Aki, nossas queridas amigas japonesas, a quem também prestei minha homenagem, deixando aqui no site meu relato. Essa coisa do abraço, do toque, da afetividade do brasileiro... Nossaaaa... É bem verdade. Posso imaginar o susto de sua amiga, no aeroporto. Também quando você se refere à questão da vergonha, do fato do japonês não gostar de incomodar os outros; do pudor em demonstrar tristeza. Pude compartilhar tudo isso com nossas amigas. São traços culturais distintos, sem dúvida alguma, mas que podem perfeitamente ser assimilados uns pelos outros quando existe tolerância, amor e amizade. Parabéns, Tamie, por sua bela trajetória de vida e obrigada por compartilhar conosco sua história. Domo arigato gozaimashita !!! Um abraço.

  11. Magda Pucci @ 18 Dez, 2008 : 23:34
    Tamie é uma pessoa admirável, uma artista completa e uma excelente professora. Ela tem sido responsável por ensinar a musica japonesa para muita gente, não apenas descendentes de japoneses mas para brasileiros também como eu, Gabriel LEvy, Camilo Carrara, Fernando Neves, Kitty Pereira e tantos outros. TAmie conhece tanto a musica folclorica como a classica erudita. Sabe tudo, significados das letras, as diferenças de estilos, das regiões do Japão etc. Ela é responsável por nos fazer conhecer a musica japonesa, pois sempre se mostrou aberta as possiveis fusões entre a musica japonesa e a brasileira.

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