Conte sua história › Tamie Kitahara › Minha história
Vim para o Brasil em 1955. Meu pai tinha comércio em Ube-shi, na Província de Yamaguchi (sul da ilha Honshu), mas, após a guerra, com oito filhos para criar, a vida ficou muito difícil. Já tínhamos parentes no Brasil, primos do meu pai que haviam partido antes da guerra. Viajamos 45 dias pelo Pacífico, passando pelo canal do Panamá, no navio America Maru. Lembro bem porque tinha 12 anos, e para criança tudo é festa, novidade.
Acho que minhas irmãs sofreram mais, porque já eram jovens, com idades entre 15 e 20 anos, e viveram toda essa mudança brusca. Até meu pai falir, nós tivemos uma vida normal no Japão. De repente, aqui, a gente não possuía nada, precisava trabalhar na lavoura, coisa que nunca tínhamos feito.
Somos em oito irmãos, eu sou a sexta. Os dois mais velhos já trabalhavam e ficaram no Japão. Vieram seis para o Brasil, e os três últimos tiveram o privilégio de poder estudar. De manhã a gente andava quatro ou cinco quilômetros a pé até a escola. Voltava, tirava os sapatos e ia trabalhar também. Passamos três anos na lavoura, em Santo André (SP). Era uma vida dura, mas não me afetou muito, me adaptei facilmente.
Digo para todo mundo que sou grata aos brasileiros, porque as pessoas na escola sabiam que a gente não falava português. Da diretora até a servente, todo mundo na escola nos ajudava. Fomos muito bem tratados. Imagino que um dia, quando tiver oportunidade, vou chegar no governo japonês e explicar isso: os brasileiros são muito acolhedores. Aprendi facilmente o português, mas meus pais e minhas irmãs não falavam nada. Quando nos mudamos para São Paulo, para abrir uma tinturaria, era eu que tinha que negociar o aluguel, servir de intérprete; e isso com 15 anos de idade!
Naquele tempo, o negócio mais fácil era tinturaria. Você pegava a roupa na segunda-feira e no dia seguinte já tinha o dinheiro, um retorno rápido. A gente economizava tudo o que podia.
Tem uma história nisso: como meu pai saiu do Japão falido, sentindo-se derrotado, a primeira coisa que nós queríamos fazer era mandá-lo de volta para lá, com glória. Não fazia nem 10 anos que estávamos aqui e já conseguimos pagar essa viagem. Ele faleceu cedo, mas mesmo assim foi para lá reencontrar os parentes e os amigos três vezes.
Depoimento ao jornalista Leo Nishihata
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Tamie Kitahara
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil