Conte sua história › Fernanda Takai › Minha história
Meu pai se formou em Geologia na USP [Universidade de São Paulo]. No início de carreira, era comum o convite para novos formandos trabalharem na Amazônia. Por isso, na época ele foi chamado para trabalhar na exploração de manganês na empresa Icomi, no Amapá. Ele conheceu a minha mãe lá. Ela trabalhava como enfermeira no acampamento da mesma empresa que ele.
Eles se conheceram em 1969 e se casaram no ano seguinte, lá no Amapá, na Serra do Navio, onde eu nasci, em 1971. Era uma vila muito avançada, que tinha um projeto arquitetônico e toda uma estrutura social, com escolas, clubes, bem no meio da floresta. As famílias dos meus pais estavam longe. Quando eles se casaram, uma família mal conhecia a outra. Meu pai vinha de uma família tradicional japonesa e minha mãe, de uma família portuguesa e alagoana. Eram mundos totalmente diferentes! Mas as famílias se deram bem (veja mais detalhes no vídeo ao lado sobre as lembranças de infância de Fernanda).
Na minha família por parte de pai, só ele se casou com uma brasileira e uma tia se casou também com um brasileiro, com a mesma origem da minha mãe, filho de pais portugueses. Então eu tenho alguns primos que tem a mesma mistura que eu. Os outros são todos muito japoneses, porque são filhos de casamento entre japoneses. Mas eu sempre me senti totalmente parte daquela família. Quando olho as fotos de família, eu percebo que nelas eu fico com os olhos mais puxados ainda, talvez ficasse mais japonesa perto deles...
Eu tomei mais consciência disso quando as pessoas me perguntavam “esse nome Takai, por quê?”. Eu me lembro de explicar que esse era um nome japonês para os meus colegas de escola. Mais tarde, depois que eu comecei a minha carreira, muita gente achava que era um nome escolhido, um nome fantasia, mas não é não. Takai quer dizer “alto ou caro”, não é um nome inventado, é de verdade! E muita gente se surpreende ao saber que eu tenho ascendência japonesa.
Eu até tenho algumas características que lembram os japoneses, em especial o jeito de ser do meu pai. Ele era muito reservado. Aliás, minha família japonesa sempre foi muito reservada, no sentido das emoções. Acho que os japoneses no geral são assim, muito acolhedores, mas é preciso bastante intimidade pra você entrar ali na alma de cada um. Eu sou assim também. Minha banda tem 15 anos e as pessoas dizem “só vejo vocês divulgando música, não sei da vida de vocês”. Isso é muito do meu temperamento. Embora eu tenha um pouco da minha mãe, que já é uma pessoa totalmente diferente, expansiva. Ela é alagoana.
Depoimento à jornalista Sílvia Amélia de Araújo
Fotos: Eugênio Sávio e arquivo pessoal de Fernanda Takai
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
As férias de infância na casa dos avós japoneses
30.000 Pés (Fernanda Takai/John Ulhoa). Disco: Daqui Pro Futuro. Selo: Rotomusic/Tratore
Mamã Papá (Fernanda Takai/John Ulhoa/Rubinho Troll). Disco: Daqui Pro Futuro. Selo: Rotomusic/Tratore
Vagalume (Fernanda Takai/John Ulhoa). Disco: Daqui Pro Futuro. Selo: Rotomusic/Tratore
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil