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Meus avós, Suegiro e Kayer Shinyashiki, eram de Kagoshima. O irmão da minha avó, que a gente chamava de Tio Gordo, era um rapaz muito empreendedor e sonhava em vir para o Brasil. Como ele era menor de idade, só poderia vir se fosse acompanhado de um adulto. Então ele convenceu minha avó a vir para cá. Meu outro tio, o Tio Magro, não podia viajar junto porque ainda era criança. Ele acabou vindo mais tarde, como trabalhador em um navio. Na viagem do Japão para o Brasil, meus avós se conheceram e começaram a namorar.
Meu avô era carpinteiro e começou a exercer sua profissão em Santos (SP). O Tio Gordo foi tentar a vida na lavoura. Comprou um sítio em Embu-Guaçu (SP), perto de São Paulo. Quando eu era criança, a gente pegava um trem em Santos e ia para Embu-Guaçu visitar meus tios. O sítio do Tio Magro, especialmente, tinha carpas lindíssimas e um jardim bem no estilo japonês.
Suegiro morreu jovem, com aproximadamente 40 anos. Sobrou para a minha avó a educação dos filhos. Kayer tinha uma personalidade muito forte. Muita gente diz que o homem japonês manda na família, mas minha lembrança é de conhecer mulheres japonesas aparentemente passivas, mas com articulação política impressionante, como era o caso da minha avó (ouça mais detalhes sobre esta história no áudio ao lado).
Minha avó fazia questão que todos nós estudássemos o idioma japonês e que os costumes japoneses prevalecessem. Isso causou um conflito na família, porque minha mãe era brasileira e minha avó queria que meu pai se casasse com uma descendente de japoneses. Meu pai só se desvinculou um pouco da família quando eu fiz sete anos, época em que nos mudamos daquele local.
Durante muito tempo eu fiquei no meio do caminho: para os brasileiros eu era japonês, não era um “da turma”, mas, como sou mestiço, para os japoneses eu era brasileiro. Tive que administrar esse conflito (saiba como Shinyashiki enfrentou o preconceito durante a sua infância no vídeo ao lado).
Depoimento à jornalista Juliana Almeida
Fotos: Carlos Villalba e arquivo pessoal de Roberto Shinyashiki
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
Quem mandava na família era a avó Kayer
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil