Conte sua história › Paula Moura › Minha história
A entrada com apenas um arranjo simples de flores dava a impressão de que o local misterioso estava vazio. Só com atenção pude perceber, depois de algum tempo, ao fundo, algumas vozes baixas. Como seria lá dentro? Que rituais guarda a cerimônia do chá japonesa? Seria eu uma intrusa ali? Tinha observado o jardim por cima do portãozinho de bambu, as pedras grandes rodeadas por areia branca pareciam levar a outro mundo, um Japão dentro de um prédio de uma rua do bairro da Liberdade.
Alguém saiu e pude ultrapassar o jardim preparador para a entrada no espírito da cerimônia do chá. A simplicidade da sala de tatame se tornava ainda mais singela com os ideogramas em um papel pendurado na parede. Depois de passar alguns meses como observadora e entrevistadora daqueles que guardavam ensinamentos e história, assim como as aquelas cerâmicas que recebiam o chá, que ficam mais valiosa com o passar do tempo, de repente me vi rodeada por algumas mulheres. Gentilmente, me ajudavam a vestir um de seus quimonos.
A emoção crescia ao me ver no espelho investida com a cultura japonesa, que tinha viajado tanto para chegar tão perto. Eu também tinha viajado desde Minas a São Paulo para encontrá-la e saciar minha sede daquela tradição ao mesmo tempo tão desconhecida e tão familiar. Assim, no fim de 2006 participei de uma cerimônia do chá para as filmagens para a rede TV pública japonesa, a NHK, após ter estudado o tema para meu trabalho de conclusão de curso, um livro-reportagem. Fui entrevistada pelo programa "Nihongo Dekimasu", que mostra pessoas ao redor do mundo ligadas à língua e cultura japonesas.
Estudo japonês desde 2002. Objetivo: ir ao Japão. Ainda não fui, mas acredito ser questão de tempo, e dinheiro, é claro, já que não é nada barato ir para lá. Assim, aproveito o Japão que há aqui no Brasil.
Além de estudar japonês, influenciada pelos desenhos animados (onde tudo começou), também pratico caratê. Por causa do amor pelo Japão, também conheci grandes amigos e pessoas importantes da comunidade japonesa. Até quando viajei para outros lugares, como Inglaterra e Peru, fiz amizade com japoneses. Cheguei a jantar com o ex-ministro das Relações Exteriores Taro Aso. Aprendi muito e passei a admirar a organização, o valor da simplicidade e limpeza, da amizade, de ser reservado, o ato de agradecer sempre, ter paciência...
Claro que às vezes há formalidade demais, mas, comigo, ela sempre foi quebrada ao mostrar interesse pela cultura. E nada melhor que, aos poucos, apreciar cada vez mais, como o gosto do doce de feijão, a textura do sashimi levemente transformado pelo wasabi e o shoyu... E olha que eu não gostava de peixe...
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil