Conte sua história › Osvaldo Tsutomu Higa › Minha história
Saudações a todos.
Vou relatar, resumidamente, um drama do qual só tomei conhecimento há poucos anos, quando entrevistei meu tio Yoshinobu, 86 anos, para um álbum de recordações da família que uma prima tomou a iniciativa de empreender.
Meu pai, Yoshio Higa, nasceu na província de Okinawa em 26 de novembro de 1916, na cidade de Kitanakagusuku-son – situada na parte sul da ilha, banhada pelo Pacífico.
Primogênito do casal Gentoku e Kana, do clã Ushiunami, Yoshio foi separado dos seus pais com poucos meses de vida, ficando aos cuidados de sua avó Kame, então viúva.
A intensa propaganda do governo japonês de incentivo à emigração de seus cidadãos para o Brasil foi o fato gerador dessa separação. Manter o bebê em Okinawa era uma forma de preservá-lo, pois o casal viajou disposto a enfrentar um árduo trabalho numa fazenda de café para fazer fortuna e, ao cabo de três anos, retornar à terra natal.
Gentoku e Kana embarcaram no Wakasa Maru em abril de 1917. Kana, aos 24 anos, já estava grávida de seu segundo filho, Fumio, que viria a nascer no final desse ano. Yoshio, com cinco meses de idade, ficou em Okinawa.
Nessa aventura, o jovem casal só estava certo numa coisa: enfrentaria um trabalho muito duro. Quanto a ganhar dinheiro... Bem, as dívidas das famílias de colonos japoneses nos armazéns das fazendas eram sempre maiores que seus ganhos. Essa era a situação que ocorria também na Fazenda Santa Ernestina, onde nasceu Fumio, no final de dezembro de 1917, registrado em 2 de janeiro de 1918, na cidade de Araraquara.
A despeito da vigilância a que estavam submetidos, muitos colonos japoneses, reféns de suas dívidas, fugiam das fazendas. O jovem casal também conseguiu fugir, levando o filho pequeno e o que pôde ser carregado. Caminharam durante toda a noite até chegar a uma estação de trem. O destino era o Distrito de Ana Dias, município de Itariri, no litoral sul paulista, onde vivia a irmã de Gentoku, Kama, esposa de Guisuke Yonamine.
Lá, nasceram o terceiro e o quarto filho do casal: Shigueo e Yoshinobu, respectivamente em 10 de outubro de 1920 e 14 de outubro de 1922. Embora as condições de vida em Ana Dias fossem melhores que na Fazenda Santa Ernestina, o rendimento que pretendiam estava longe de ser alcançado. No final de 1922, Gentoku recebeu uma carta de seu irmão Giko, que o chamava para juntar-se a ele, em Buenos Aires, Argentina. Lá, as possibilidades de ganhar dinheiro eram muito maiores, dizia o irmão.
Após uma discussão sobre uma nova mudança, Gentoku seguiu para a Argentina e Kana voltou para Okinawa com os três filhos. Era início de 1923, quando Kana embarcou no navio Takoma Maru. O filho Fumio estava com cinco anos de idade, Shigueo com dois e Yoshinobu apenas alguns meses.
Durante muitos anos, pensei que minha bisavó, meus avós, meus pais e meus tios tinham vindo todos juntos de Okinawa para o Brasil, em 1936, a bordo do Buenos Aires Maru, que atracou em Santos no dia 28 de novembro.
Nunca imaginei que meu pai só foi conhecer a mãe e seus irmãos com quase sete anos de idade. E só pôde conhecer seu pai aos 20 anos, já casado e com um filho, na cidade de Gália, na região noroeste do Estado de São Paulo.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil