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Quando preparava a pesquisa de Gaijin – Ama-me como sou, no Paraná, voltei a freqüentar festas japonesas. Só então me dei conta de que meus filhos (e os de Yurika) não tiveram esse privilégio de conhecer a cultura japonesa através das festividades, porque cresceram no Rio de Janeiro e lá a comunidade ficava mais distante de nós. É verdade que eu levo parte da culpa por não facilitar esse encontro. Meu filho Fábio foi o único que se manifestou em querer aprender japonês. Mas, na época, a gente morava em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, e as escolas eram todas distantes, no centro, então ele não aprendeu. Eu não me esforcei como deveria para ensinar a cultura japonesa para meus filhos. Hoje eu me arrependo.
Agora, estou dedicada à produção de outro filme, o Amazônia Caruana, que também trata da questão da identidade cultural. Eu vivi isso, me acho no direito de querer entender a dificuldade que um negro, um índio ou um imigrante tem em viver aqui no Brasil, onde a cultura dominante é tremendamente influenciada pela cultura branca, que chegou com o colonizador e, mais tarde, foi alimentada pela dominadora cultura norte-americana. Por outro lado, acho que nosso País tem o privilégio de ser o melhor exemplo de nação que tem a convivência pacífica entre povos de diferentes religiões, pele, fisionomias, comportamento... Questionar o tema sobre identidade cultural me atrai. Assim, fiz o filme Parahyba Mulher Macho, história de uma poetisa libertária que não era aceita pela sociedade paraibana dos anos 30. Fiz o Pátriamada para discutir qual era o nosso papel como produtores culturais naquele momento de passagem para um governo civil, depois de tantos anos de governo militar. E, entre outros, o Fica Comigo, que foi o resultado da minha enriquecedora experiência de vida com meu filho adotivo – para contar como é uma pessoa sem lastro histórico de sua existência, que tem de se adaptar a uma nova e desconhecida família. O choque cultural é muito grande.
Geralmente, os assuntos que desconheço são os que me atraem mais para filmar. O mundo que se descortinava à minha frente, freqüentando a elite da sociedade paulista através do Iadê, praticamente, me obrigava a romper com os valores dos mais fundamentais da cultura da minha família: não incomode os outros, não invada o espaço alheio. Isto me deixava em desvantagem no mercado de trabalho que se abria. Hoje, penso que nem tão lá, nem tão cá. Sempre é melhor o meio termo. Gostaria que meus filhos prestassem atenção nisso. Não perder o espaço sendo tímido demais, mas também não invadir demais o espaço alheio, porque é constrangedor para os outros.
Depoimento à jornalista Renata Costa
Fotos: Everton Ballardin e arquivo pessoal de Tizuka Yamasaki
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
Tizuka fala sobre os hábitos alimentares de sua família. Na mesa não faltam arroz branco e yasai
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil