Conte sua história › Yoshiko Sano › Minha história
Minha mãe e eu pegamos maleita por sermos as mais fracas, assim que chegamos no Brasil.
Minha mãe viveu até os cento e um anos (acreditamos que foi com cento e quatro) registrados. Morreu lúcida e forte, os médicos disseram que foi por causa da idade mesmo!
Ela era analfabeta, no Japão, dos seis anos aos nove anos, ela foi enviada a outra cidade para ser babá de três crianças. Certa vez, quando os patrões a enviaram de volta para uma visita, eles simplesmente a colocaram no navio e ela ao chegar no porto começou a chorar. Uma pessoa que estava passando, perguntou o que estava acontecendo e ela lhe disse que queria ir à casa do seu Tio Oji e ele a levou até lá. O tio perguntou para ela, se ela não estava frequentando a escola e ela disse que não, só a faziam cuidar das crianças. Ela contou que um dia saiu para passear com duas crianças nos braços e uma nas costas, todos tomaram muito sol e voltaram muito queimados pelo Sol, levaram a maior bronca e os quatro começaram a chorar. Quando ela voltou para a casa do Tio, teve que ajudar na roça e não teve tempo de frequentar a escola.
No Brasil, mesmo analfabeta, vinha de Santana do Parnaíba a Osasco sozinha. Ela decorava os números dos ônibus…
Eu, depois da maleita aos doze anos, ‘fracassei’, fiquei pele e osso. Meu pai queria me levar ao médico, mas não tinha dinheiro, continuei trabalhando na roça, fazendo ‘trabalhos leves’, acabei me curando naturalmente. Não sei como estou viva até hoje, sou a única que sobrou. Meu marido chegou aos 98 kilos, nossa diferença sempre foi de 50 kilos.
Minha alfabetização foi aos poucos. Fechava o armazém, colocava a minha filha caçula (Tomie) para dormir e junto com o meu marido atravessava a rua e ficava durante uma hora, tentando aprender a escrever. Só aprendi o ‘a,b,c’ e o meu nome. Vim com 11 anos, alfabetizada na Língua Japonesa, depois de casada, sempre lí o jornal japonês e assino até hoje. Meu marido sempre comprava o jornal japonês para mim porque tinha uma seção para as donas de casa. Ele sempre lia o jornal brasileiro. Aprendi melhor a ler a Língua Portuguesa no Mobral, em Osasco, onde fui a primeira aluna da turma. Adoro ler… Seja livros ou jornais… e isto me fez aprimorar a eficácia na leitura.
Freqüentei a Faculdade de Educação Física da Terceira Idade na FMU por cinco anos. Tive formatura e recebi até um diploma!
Tenho 86 anos e sou junnissei. Até o ano passado, eu participava do Radio Taisou no Hiroshima Kenjinkai, Karaokê e do Coral no Esperança Fujinkai do Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social). Este ano, já retomei minhas atividades, só no karaokê que não vou mais.
Antes, eu viajava muito, fazia caminhada, karaokê, coral, odori, mas parei, ‘acho que é por causa da idade’.
No Bonnenkai, ganhei a maior Cesta de Natal no bingo, devido a felicidade que fiquei, eu a carreguei até em casa sozinha. Fiquei dois dias com dor no ombro. Ganhei moti por ter mais de oitenta anos e mais alguns brindes.
Acordo às cinco da manhã, tomo meio copo de iogurte, vou para o radio taisou, volto tomo café da manhã… Almoço meio dia em ponto… Janto cinco horas em ponto… Durmo cedo… Moro com a minha filha caçula… Cumpro com a minha agenda no Esperança Fujinkai e às vezes, sou chamada para ajudar um pouquinho mais e vou sem pestanejar…
Sempre fui alegre e gostei da vida… por isso, estou viva até hoje!
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil