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Julio Fucuta

São Paulo / São Paulo - Brasil
54 anos, Jornalista

No Brasil, é Fucuta!


Meus avós, Kotaro Fucuta e Mito Saito, desembarcaram no Brasil em 1918. Eles se conheceram em alto-mar, no navio em que vieram, o Hakata-maru.

Kotaro veio da província de Fukuoka. Graças a um escrivão confuso com a sonoridade do nihongo, seu sobrenome "Fukuda" virou "Fucuta". Desconheço a região de origem de vovó. A ela foi confiada uma missão especial: resgatar um irmão que viera para o Brasil há alguns anos e voltar com ele. Ela foi escolhida porque era a mais fiel à família. Meus bisavós tinham certeza de que Mito não falharia em retornar ao seu país Natal.

Ela localizou o irmão. Casado e pai de uma criança, ele não pensava em voltar para o Japão tão cedo. De fato, nunca retornou. Mas a esposa dele, muito doente, já morrendo até, agarrou-se a Mito. Viu nela a substituta perfeita, a mulher que poderia cuidar de seu filho diante da morte iminente.

Mito cumpriu o que prometeu e cuidou da criança após a morte da cunhada — fato que a impediu de regressar ao Japão.

Casou-se com meu avô, Kotaro. Moravam com simplicidade em uma pequena cidade do interior de São Paulo, Miguelópolis. Como aprendeu rapidamente o português, Kotaro se tornou responsável pela comunicação entre os brasileiros e os japoneses que trabalhavam nas fazendas da região.

Graças a Mito e a uma gana de vencer inabalável, economizava tudo o que ganhava. No final dos anos 30, era proprietário de um posto de gasolina, um supermercado e uma fazenda.

Tiveram cinco filhos: duas meninas e três meninos. Kotaro morreu cedo, quando seu caçula, Julio, meu pai, tinha cerca de seis anos de idade.

Mito passou dos 90, sempre confundindo os moradores de Miguelópolis com sua mistureba de palavras brasileiras e japonesas. Eu não me recordo de ter entendido uma frase do que ela dizia em toda a minha infância. Mas seus Uguisu-Mochi eram inigualáveis.

Meu pai, dentista, casou-se com uma não nissei, uma união inaceitável para algumas famílias japonesas. Mas os Fucutas já estavam enraizados e receberam minha mãe de braços abertos — a ponto de descolara garfo e faca quando percebiam que ela ficava alarmada sempre que era chamada pra almoçar.

Meu pai, um nissei que gostava de brasileiras e futebol, nunca achou tempo para inserir a cultura japonesa em nossa casa. O mais próximo que chegamos disso foi encontrar, entre os discos de meu pai, Besame Mucho em nihongo.

Estive no Japão em 1992. Infelizmente, não pude conhecer nenhum parente de meus avós. Eles perderam completamente o contato com suas famílias quando, durante a Segunda Guerra Mundial, tiveram todo e qualquer documento escrito em japonês queimado pelo governo brasileiro. É um dos países mais fascinantes do planeta. Espantei-me tanto com o futurismo de Tokyo quanto com as dunas de areia de Totory-no-Sakyô. Kyoto é magnífica. Em Yokohama, tudo é imenso: os arranha-céus, as pontes cinematográficas, os parques de diversão (sem esquecer a maior roda gigante do planeta). E havia ainda o castelo de Osaka, os templos e o parque de Nara...

É bacana poder resgatar tudo isso aqui, nesse espaço tão democrático, e poder contribuir com um pedacinho dessa história que já faz cem anos.


Enviada em: 14/02/2008 | Última modificação: 14/02/2008
 

 

Comentários

  1. Kátia @ 15 Fev, 2008 : 21:52
    Oi, Júlio, lembra de mim? Do jornal Paulista...

  2. Paulandre @ 12 Mar, 2008 : 11:58
    Uai que bacana, tava pesquisando sobre imigração Japonesa e me deparo com seu relato. Linda história...lembra de mim também. Amigo do Paulo Henrique. =)

  3. Renato Yassuda @ 12 Mar, 2008 : 15:23
    Prezao Júlio; Parabéns por seu depoimento e por compartilhar com os demais. A frase que você usou no final de seu depoimento:"É bacana poder resgatar tudo isso aqui, nesse espaço tão democrático, e poder contribuir com um pedacinho dessa história que já faz cem anos." é a maneira como todos se sentem ao compartilhar com os demais suas histórias. E de uma maneira ou de outra, trazem lembranças e coincidências nas lembranças e memórias dos leitores. Vou compartilhar com você algumas referentes a minha história. Tanto meu avô paterno quanto de sua esposa (avó paterna) também tiveram seus nomes escritos de outra forma em seus registros brasileiros. Na forma original (Japão), o nome do meu avô é Ryoichi e da minha avó é Shiduno. Nos registros brasileiros ficaram Rioity e Shiduca. Já o sobrenome ganhou "ss" e ficou Yassuda. O primeiro filho deles, meu tio Fábio, casou-se com uma brasileira não descendente e aí meus avós não puderam mais recriminar os demais. Assim todos os demais filhos do casal (entre os quais, meu pai Renato Satio) se casaram com brasileiras. Durante a II Guerra Mundial tiveram diversos documentos apreendidos e confiscados, o que aliado ao fato do rompimento de relações diplomáticas Brasil-Japão, também ficaram bastante tempo sem contato com seus familiares no Japão. Hoje estes laços familiares estão reestabelecidos e temos contato com nossos familiares no Japão. Uma prima minha estará vindo durante as comemorações do centenário da imigração para vivenciar os festejos junto conosco, os familiares brasileiros e sabe qual seu nome? MITO. Interessante as coincidências não? Um abraço e sucesso.

  4. Yoshiko Tateishi @ 16 Mar, 2008 : 19:05
    O mundo é muito pequeno mesmo, sou casada com um miguelopense, e nas conversas com a minha sogra e tias de meu marido, sempre falavam dos "Fucutas" que ensinaram cantigas japonesas, e "palavrões" em japones, e diziam que a cidade de Miguelópolis foi formada com terreno doado pelos "Buenos" (no caso bisavos) e a outra parte foi comprada pelos "Fucutas". Quando estive na cidade a minha sogra falava "esse posto de gasolina é dos Fucutas", sua família tem um excelente conceito na Cidade, parabéns!

  5. Julio @ 3 Abr, 2008 : 17:21
    Oi Yoshiko. Que bom saber disso!! Obrigado por postar seu comentário. Um beijo!

  6. Rita de Cássia Arruda @ 4 Abr, 2008 : 07:01
    Belo relato o seu, Julio. Parabéns !!! Fez com que me lembrasse não de sobrenomes nipônicos eventualmente aportuguesados, mas de uma história certa vez contada pela Irene Ravache (atriz) no Programa do Jô. Quando foi dar à luz seu primeiro filho, muito emocionada, Irene queria reter na memória cada precioso momento daquele dia. Na maca, já a caminho do centro cirúrgico, com soro na veia e tudo o mais, meio grogue, ela segura o braço do médico, um nissei, e lhe pede que diga seu nome, mas muito pausadamente, segundo ela, de modo que posteriormente dele se lembre e o possa escrever no álbum de fotos do bebê. O médico, educadamente e bem devagar, aperta-lhe a mão e diz: "Jooooor-ge. Meu nome é Jor-ge, dona Irene". Ela certamente esperava um daqueles nomes impronunciáveis.

  7. Valdete Sizuko Tamashiro @ 9 Abr, 2008 : 21:29
    Olá, Julio! Vim ler o seu post e acabei ficando curiosa... Você tem esse disco com o Besame Mucho em japonês ainda? Fiquei curiosa com tal gravação! Abraços! Parabéns pelo relato!

  8. Carolina Fucuta @ 3 Nov, 2008 : 00:32
    Sou Carolina Fucuta,Paranaense,tenho 18 anos e sou filha de Jose Carlos Fucuta.Li a sua reportagem sobre a vinda de nossa família para o Brasil.Valeu!Você relatou fatos que eu descohecia.Meu pai nao comenta muito sobre o passado... ele sempre diz que ta morrendo de saudades de seus pais,e lembra pouco de vocês(primos).Fala que jogou muito futebol com teu pai e mostra fotos.Isso é o pouco que sei. tenho curiosidade em conhece-los,quem sabe um dia! beijos e abraços a todos.

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