Conte sua história › Takako Katsuren Guenka › Minha história
Vim para o Brasil em 1958, com 15 anos, após terminar o ginásio em março. Em maio, junto com meus pais e meu irmão, deixei Okinawa com destino a Kobe. Lá, fiz um estágio de dez dias para tentar aprender o idioma português antes de imigrar. Depois da guerra, nosso lugar era difícil de viver. Por isso que papai e mamãe sonhavam em virar fazendeiros no Brasil.
Depois de 45 dias a bordo de um navio, cheguei a Santos. De Santos, peguei um trem maria-fumaça para Campo Grande. Inicialmente iria para uma colônia chamada Capem, a 500 quilômetros de Cuiabá (ao norte de Mato Grosso). Mas acabei ficando em Campo Grande. Meus pais e meu irmão foram. Quando chegaram lá, souberam que a terra não era boa para viver, ficaram tristes e voltaram para Campo Grande. Desde então, "virei" campo-grandense, e a considero minha segunda terra natal. E dos 100 anos de imigração, passei 50 no Brasil.
Na infância, a gente brincava de esconde-esconde, de nadar no córrego, de fazer comidinha. Essas brincadeiras de menina, né. Aí, no domingo, eu ia catar lenha no mato e fazia plantação no brejo. Tinha hora para brincar, mas também tinha que ajudar a família.
Em 1961, casei-me e ganhei três filhos. Trabalhei até 1974 na chacára, plantando verduras. Em 1979, por causa dos estudos dos filhos, vim para a cidade. Na feira, comecei como ajudante, junto com o papai e a mamãe. Fomos um dos primeiros a fazer o sobá (prato típico de Okinawa). Em 1980, incentivados por amigos, compramos uma barraca. Apesar de todas as dificuldades, eu falo que a persistência é como ouro. E esse negócio do sobá foi uma herança dos meus pais para mim. Agora, a feira central está famosa graças à inteligência dos pioneiros. Eu admiro muito eles, porque nem sabiam falar o português. Um pioneiro deixou uma pequena semente, que agora está crescendo. Se antes o pessoal falava que era sobá de Okinawa, agora é o sobá da feira central.
Para fazer o sobá, é preciso macarrão caseiro, ossos de porco, como costelinha, shoyu, sal e um tempero à base de peixe.
Pega-se uma panela grande para ferver o osso de porco na água, em fogo baixo. Demora umas oito horas. Depois, coa-se o caldo, que é temperado. Depois, na tigela, colocam-se o caldo e o macarrão e acrescentam-se o ovo frito e a cebolinha picados.
Este é o tempero tradicional, que eu faço . Hoje tem gente que mistura no caldo costela de frango com o de porco, ou só faz com frango. Na feira, tem bastante caldos diferentes.
Depoimento ao jornalista Luciano Shakihama
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil