Conte sua história › Carlos Akira Kato › Minha história
Se você quer saber mais sobre a Shindoo-Renmei, certamente terá que suar muito para tirar da memória dos muitos descendentes de japoneses ainda vivos, que presenciaram esta passagem da história da imigração japonêsa no Brasil. Pelo menos na minha tentativa, cheguei a uma conclusão de que este é um assunto que poucos ousam remeter as suas lembranças à este passado. Através de alguns poucos relatos de amigos e familiares e dos livros Corações Sujos de autoria de Fernando Morais e O Súdito, de Jorge Okubaro, pude construir uma imagem do que foi a Shindoo-Renmei.
Apesar de saber que o meu conhecimento significa apenas uma pequena página de uma rica história da imigração japonêsa no Brasil, relato algumas das passagens que a nossa família vivenciou após o assassinato de meu bisavô, o Coronel Jinsaku Wakiyama.
O livro Corações Sujos, relata em minunciosidade os últimos momentos do meu bisavô na noite de 02 de junho de 1946, mas por outros olhos, havia uma outra história de medo, pavor e tristeza. Naquela noite, na casa da Av. Bosque da Saúde, estavam a sua esposa e todos os seus netos acuados uns no quarto ao lado, outros pelo lado de fora, ouvindo tudo que se passava naquele fatídico dia, inclusive o momento do tiro que levou a vida de meu bisavô. Nenhum destes netos, hoje meus tios, tias e a minha mãe, que naquela ocasião tinha apenas 4 anos de idade, poderiam imaginar o sofrimento e as provações que a vida lhes destinara.
O Coronel Wakiyama, conhecido pela sua forte personalidade, era o patriarca e a base de sustentação da família. Seu único filho, Ichiro Wakiyama estava ausente no momento, pois estava na peixaria da família e ainda não tinha voltado para casa.
A partir deste fato, uma sequência de tragédias acompanharam a família Wakiyama, pois em junho do ano anterior, sua nora Hatsuno Wakiyama já havia falecido, vítima de tuberculose. Em sequência, num trágico acidente de caminhão, faleceu o seu filho Ichiro Wakiyama, aos 40 anos de idade. Seus netos então órfãos, tiveram que ser separados para serem abrigados em residências de parentes, até que alguns anos mais tarde, o irmão mais velho Toshio, pôde abrigar e reunir novamente todos os seus irmãos e a viúva do Coronel Wakiyama.
Em nenhum momento posso associar esta triste história de minha família ao assassinato de meu bisavô pela Shindoo-Renmei, mas a minha imaginação me remete à essa época do fanatismo de alguns descendentes japoneses, que esta triste história da nossa família poderia ser diferente.
Hoje os meus familiares superaram estas dificuldades e todos puderam ter uma vida digna, pela qual pôde me proporcionar este momento para relatar uma passagem triste da rica memória da história da família Wakiyama no Brasil.
Para quem que saber mais sobre o Coronel Jinsaku Wakiyama, parte de sua história e a sua suntuosa farda repousam no Museu da Imigração Japonêsa em Bastos - SP, intacta, apesar de seus mais de cem anos de existência.
http://www.bastos.sp.gov.br/cultura.htm
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil