Conte sua história › Paulo Moriassu Hijo › Minha história
O pequeno sítio, de não mais que dez alqueires, onde nasci, ficava ao norte e a 40 km da cidade, numa região que era denominada apenas de Gleba. Os sitiantes japoneses, entretanto, costumavam chamar aquelas bandas, que se localizavam em Eneida, um distrito da comarca de Presidente Prudente, na região da Alta Sorocabana, de “Colônia Yamato”.
No sítio, eu não tinha com o que brincar. Fazia das coisas que encontrava os meus brinquedos. Um pedaço de pau se transformava em um cavalo. Uma lata vazia retangular, em um caminhão. Uma lata pequena, ligada a uma varinha por um barbante, era o meu bilboquê. Com uma folha de papel recortado, uma vareta e um alfinete de cabeça, fazia um cata-vento. Qualquer objeto que encontrava, se pudesse fazer uso dele, virava um brinquedo. Isso quando a minha imaginação e habilidade cooperavam.
Uma vez, aprendi a fazer um brinquedo automático com um carretel de linha. Passei, pelo seu orifício, uma tira fina de câmara de ar que, de um lado, prendi com um arame menor que o diâmetro do carretel. Do outro lado, coloquei um pedaço de vela e, passei pelo seu orifício a tira de elástico e o prendi num arame mais comprido que o diâmetro do carretel. Girava o arame comprido até o elástico traspassado ficar totalmente retorcido. Depois da corda dada, largava a rodinha no chão e ela se locomovia sozinha.
Eu fazia de uma velha semeadeira, abandonada ao lado da casa, um dos meus brinquedos favoritos. Fazia de conta que ela era um trator e fingia que arava e semeava a terra. Ou que era um caminhão e, imitando meu pai, me imaginava carregando as colheitas. Brincava também com a manivela do moinho de pedras, que meus avós usavam para triturar grãos de soja e arroz.
Alguns alimentos
Caro leitor, me desculpe a abrupta mudança de assunto. Como acima mencionei arroz e soja, julgo importante mostrar a importância e valor que os okinawanos, como todos orientais, dão muito a esses cereais.
Moendo a soja no moinho de pedra, os meus avós obtinham o leite, e com ele fazia-se o “tofu”, queijo de soja. E com as sobras, fazia-se a farinha, e com esta, a minha avó fazia uma deliciosa farofa, chamada de “tofu nu kashi”, no dialeto de Okinawa. No mesmo moinho, moíam um tipo de arroz, o “motigome”, para fazer o “moti”, um doce típico do Japão.
Com os grãos de soja fermentados, dispostos num tabuleiro guardado em ambiente fechado, era feito o “missô”, uma massa que serve de condimento e é excelente para fazer caldos e sopas. E com soja fermentada, combinada com outros cereais, fazia-se o molho de soja, “shoyu”. Mas, no início da década de 60, as famílias japonesas, da região de Presidente Prudente, deixaram de fazer o shoyu em casa, pois já estava disponível no mercado um industrializado, de marca Sakura.
Trecho retirado de um livro que pretendo publicar.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil