Conte sua história › Valeria Mieko Nakamura › Minha história
Apesar de ter nascido em uma região de muitos japoneses, acabei convivendo muito mais com não-descendentes desde minha infância, pois estudei em um colégio de freiras onde nós "japoneses" éramos minoria. Sendo assim, não gostava que me chamassem de "japonesa", logo respondia, sou "brasileira" (o que não deixa de ser verdade).
Um fato foi muito marcante em minha infância, acho que por isso eu não queria ser "japonesa". Eu fazia um curso no qual não tinham "japoneses" e um dia fui bastante ridicularizada na sala, pois em cada término de frase eu dizia "né". Chorei muito neste dia e prometi que não falaria mais esta palavra que as pessoas associavam aos "japoneses" e me impus um desafio, seria uma comunicadora brilhante apesar da minha timidez (que é outra característica de “japoneses”).
Todos os trabalhos da escola eu queria fazer as apresentações (sofria muito para não falar o "né" e vencer minha timidez), mas tenho certeza que esse momento de sofrimento se tornou o meu grande aprendizado.
Fui para o curso técnico e minha grande vitória... fui escolhida para ser a juramentista da turma em minha formatura, mais uma vitória.
Cursei Comunicação Social e aperfeiçoei a cada dia a forma das minhas apresentações e até o dia mais esperado... a defesa da monografia de meu grupo que foi excepcional, mais uma grande vitória.
Mas, na busca da constante melhoria (coisa de japonês) fui convidada para atuar como facilitadora em um curso para empreendedores e a partir desse momento, comecei a fazer o que mais me dá prazer profissionalmente, desenvolver pessoas, fazer com que elas descubram todo seu potencial para que possam superar seus desafios e buscar suas realizações, assim como eu fiz durante toda a minha vida.
Hoje, mais do que nunca, tenho muito orgulho em ser chamada de “japonesa” ou “japa” (como meu marido me chama), apesar de meus amigos dizerem que sou absolutamente falsificada. Aprendi a admirar as minhas origens, os ensinamentos dos meus antepassados, a luta dos que vieram para o Brasil e o meu sobrenome (que continuou o mesmo depois de casada... imagine convencer um neto de italianos que não iria acrescentar o sobrenome dele?).
Aprendi a transformar os obstáculos em oportunidades e ser “japonesa”, no caminho que resolvi trilhar é um diferencial competitivo, afinal não é fácil encontrar uma mulher, baixinha e “japonesa” como palestrante de empreendedorismo. Às vezes, muitos não lembram o meu nome, mas se lembram da palestra da “japonesinha”.
Minha filha é uma mestiça linda e espero que ela possa construir seu futuro com a disciplina dos japoneses, a garra dos italianos, a alegria dos brasileiros e um profundo respeito por todas as pessoas que fazem parte desse nosso Brasil.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil