Conte sua história › Adilson Tokita › Minha história
Oditian dá sinal para o ônibus que nos levará ao Zoo e entram umas 10 crianças japonesas, netos, entre 5 e 12 anos.
Vão, também, duas ou três filhas dele junto.
Oditian paga todas as passagens e vai lá p/ frente, fica de pé ao lado do motorista.
Vemos e ouvimos os dois rindo: Oditian mais alto, impossível rir mais alto que ele.
Madrugada, todos são acordados pelo Oditian, vários primos, tios, tias.
Tomamos um café fora de hora e vamos a pé até a esquina onde um ônibus fretado nos espera.
Vamos à praia, nós e metade dos oditians e obatians da Pompéia.
Praia, um pouco de praia e depois do bentô, todos se reúnem numa grande roda e começam a cantar e bater palmas.
Meu 1º karaokê e eu nem sabia o que era.
Só sei que eles se divertiam a valer.
Oditian era frequentador assíduo de casamentos e enterros.
Fazia miai, ia a muitos casamentos que ele mesmo arranjou.
Ia a muitos enterros de amigos que foram antes dele.
O que me lembro é do figurino: terno e tênis.
Quem diria, modernérrimo, já nos anos 70.
Mas, pouco se importava, afinal a joanete doía prá caramba.
Jogador contumaz, baralho principalmente.
Dizem que perdeu fazenda, senhor do café... não consigo nem imaginar.
Depois disso, abriu um restaurante que também abrigava uma mercearia.
Oditian vendia fiado e nem sempre via o $$ de volta.
Festas, adorava fazer festas.
Festas com comida, normalmente muita comida que ele mesmo preparava.
Recebi de herança as suas panelas de feijoada e sukiaki. E agradeço eternamente, o gosto pelas festas.
Morreu, com quase 90 anos.
Na partilha dos objetos, meu tio mostra fotos e desenhos japoneses não apropriados à crianças.
Sabia que ele tinha, tinha quase certeza, mas é destas coisas que não se pergunta à um Oditian.
Ele mesmo não disse, mas deu um jeito para eu descobrir.
Lembro destas histórias e me pergunto por que ainda estão na memória?
Diria que não são histórias típicas dos japoneses, mas são histórias de japoneses.
Como também, histórias de outros povos que, graças aos deuses, por aqui continuam a fazer este caldo.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil