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Komatsu Okinokabu

Taubaté (SP)
117 anos, aposentada

Mutirões na colônia


Para construir as casas, os japoneses faziam mutirões. Derrubavam a mata virgem e serravam a madeira, que era muito boa. Nossa casa ainda está lá. Tinha uma varanda, quartos grandes. O banheiro ficava no lado de fora, era uma fossa. O ofurô era construído em um tronco de madeira escavado, forrado com uma chapa de zinco, e era aquecido a lenha.

Em 1948 nos mudamos para Tapiraí (SP) onde já vivia meu irmão. Passei a ser somente dona de casa, com o marido e os filhos maiores trabalhando numa oficina de manutenção de veiculo e posto de combustível. A região era predominantemente agrícola com muitos japoneses, o que dificultou o meu aprendizado da língua portuguesa. A colônia mantinha as tradições japonesas, o undokai (gincana esportiva) era realizado no pasto e no kaikan havia projeções de filmes japoneses, que as pessoas assistiam sentadas no chão de tatame. No oshogatsu (ano-novo), íamos de casa em casa cumprimentar as famílias, durante três dias.

Em 1956, fui me aventurar em São Paulo, onde já viviam muitos parentes. Morei na Vila Prudente e trabalhei com costura. Freqüentei o kaikan (clube), participei do fujinkai (grupo de mulheres) e comecei a jogar gate-ball. Com a morte do meu marido em 1986, passei a morar com os meus filhos.

Em 1993 fui ao Japão com meu filho, minha nora e minha sobrinha, fazer turismo por seis semanas. Foi muito emocionante, pois pude reencontrar parentes e amigas de infância. Minha lembrança mais bonita de lá foi o sakurá (cerejeira), que estava florido e muito bonito.

Desde 1995 moro em Taubaté com meu filho e nora. Freqüento o kaikan, onde tenho muitos amigos.

O Brasil tem tudo o que preciso. Fui muito feliz aqui.


Enviada em: 24/01/2008 | Última modificação: 27/01/2008
 
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Comentários

  1. Luci Suzuki @ 27 Jan, 2008 : 17:24
    Sra. Okinokabu, parabéns pelos seus 100 anos de idade e pela extraordinária vitalidade e saúde com que vive estes melhores momentos de sua vida. Terá atravessado por muitos desdobramentos históricos e políticos deste país , assim como terá vivido múltiplos desafios e acasos, com todas as conotações que eles possam conter. Em um dos seus textos, encontrei a palavra “mutirão”, uma iniciativa solidária que reporta ao coletivismo, da qual tantas famílias japonesas puderam recorrer e retribuir entre sí. Creio que o mutirão traduz, com precisão, um dos alicerces fundamentais que constituíram a formação da comunidade nikkei e um dos códigos de acesso para compreender sua própria evolução. O senso pragmático não permitia atribuir sua condição, por mais miserável, à vontade divina. Era necessário apenas arregaçar as mangas, coletivamente. Uma fórmula tão simples e econômica que resolveria tantas questões que assolam o Brasil de hoje. É que, entre querer e iniciar, há um abismo que os separa, chamado assistencialismo. Sra Okinokabu, pelos seus felizes 100 anos, ご苦労様でした。

  2. Nilo Hideo Okinokabu @ 4 Fev, 2008 : 20:57
    Sou filho mais novo da Sra.Komatsu, e gostaria de aqui deixar registrado os momentos que marcaram e pautaram nossas vidas, proporcionando-nos a felicidade que vocês bem podem imaginar e aquilatar, quão raras são as pessoas que atingem essa idade. Agradecemos aos amigos, as amigas e parentes que, através da compreensão, tolerância e principalmente do carinho a ela dispensado, em muito contribuiu para que ela chegasse ate aqui, gozando de saúde e se inteirando de tudo que ocorre ao seu redor. Nao poderia de deixar tambem registrado a união de irmãos, irmãs, cunhados e cunhadas, que nunca deixam de comparecer nos dias comemorativos (Aniversario, dia das mães e Natal). Agradecimento especial ao irmão Satoru e cunhada Satie pelo carinho que tem dispensado a mamãe nos ultimos 14 anos. Muito Obrigado

  3. Ricardo, Fátima, Carolina e Victor Oossawa @ 6 Fev, 2008 : 00:00
    A nossa querida "Batian" por adoção, que nos recebeu, como toda a família, com tanto carinho, nos dando a cada encontro uma lição de vida, pela sua disposição, alegria e por incrível que pareça "juventude", o que a torna para nós certamente inesquecível.

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