Conte sua história › Lucas Kenzo Dakuzaku › Minha história
O meu primeiro contato com a música japonesa, em especial a de Okinawa, foi com certeza quando eu cheguei em casa depois da maternidade. Pois meu pai tinha inúmeras fitas de minyo, e alguns Cds que minha tia mandava do Nihon.
Eu ficava alí, no colo da minha mãe, do meu pai, da minha avó, e o rádio estava sempre ligado, e aquele "Tun tun ten" do sanshin ecoando pela casa.
Quando eu tinha um ano e pouco, um tio avô de São Paulo veio nos visitar. Ele usava sempre uma camisa branca, calça ocre e seu chapeu, em um braço carregava sua malinha e com a outra seu sanshin.
Esse "oji" foi pra Okinawa quando era jovem pra aprender a tocar sanshin. Ele passou alguns anos na ilha, e aprendeu muitas músicas. O que todos aqui em casa admiravam era que ele não usava nenhum tipo de partitura, tocava tudo de cabeça; só uma música ou outra ele precisava dar uma olhadinha na letra. Esse foi meu primeiro contato com o sanshin.
Alguns anos depois, minha bachan ensinou a dançar kachashi (realizada normalmente no fim de festas okinawanas, com música contagiante, onde todos são convidados à dançar). A partir daí, começei à imitar as danças que via na tv (na época minha avó recebia fitas com apresentações de música e dança de Okinawa).
Eu crescí e me desliguei desse universo cultural. Não dançava e nem ouvia esse tipo d música.
Mas um dia por algum motivo assistindo a NHK, uma música chamou minha atenção. Miyako Harumi e Kobayashi Sachiko cantavam Shima Uta. Eu nem fazia idéia do que a letra dizia, mas me encantei pela melodia, e começei a decorar a canção sem mesmo saber ler nihongo.
Nessa época eu tinha uns 8 anos, e a partir da legenda das músicas eu aprendí a ler hiragana e katakana. Meus pais achavam interessante eu conseguir aprender a ler assim: ouvindo o som das sílabas e reconhecendo o símbolo em japonês.
Depois de muito esforço, eu concluí um mini-alfabeto, e conseguia ler quase tudo (em hira e katakana é claro).
Pra aprender mais símbolos, a cada semana eu acompanha um novo músical. E procurava no meio das coisas do meu pai, os cds e as letras das músicas. Em pouco tempo eu conhecia uma boa quantidade de música e cantores.
Aos 11 anos eu ganhei um computador, e procurava aprimorar meus conhecimentos em todos os sites de japonês.
Vendo meu esforço e gosto pela língua japonesa e pelas músicas, meus pais deram a idéia de eu começar a aprender a tocar sanshin.
Eu era criança, só tinha amizade com amigos da escola; fora eles, eu não tinha mais amigos, e nem frequentava os evetos nipônicos.Por isso me sentia meio inseguro em ir pro kaikan (clube).
Depois de muita insistência eu fui. Eu tinha uma tia e uma prima que já fazia aulas, então foi mais fácil de "entrar em contato" com a turma.
Minha primeira aula de sanshin foi fantástica. Eu saí do kaikan com a certeza de que jamais deixaria de tocar aquele instrumento.
Hoje tenho 17 anos, e já faz 4 anos que toco sanshin. Participo de apresentações em Araraquara, São Paulo, Rio Preto. Além do sanshin aprendí a tocar taiko sozinho (estilo mitsufumi), e sanba (uma espécia de castanhola okinawana).
Meu maior sonho é ir pra Okinawa conhecer a terra dos meus antepassados e tornar-me sensei.
Nada So So
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil