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  Conte sua históriaKinue Shizuno › Minha história

Kinue Shizuno

São Paulo
78 anos, dona de casa

Atividades no kaikan


Quando eu tinha 11 anos, mudamos para a cidade de Pereira Barreto. Nessa época, ficava cuidado da casa, dos irmãos, e ia ao “nihongakko” (escola de língua japonesa). O pensamento da maioria dos japoneses era machista, então as mulheres não tinham oportunidade de estudar. A obrigação era aprender a costurar e a cozinhar.

Na hora de tomar banho, no ofurô (banheira), que era um tanque de cimento aquecido à lenha, respeitávamos a hierarquia: primeiro os avós, depois os homens. Por último, as mulheres. Eu entrava na água já suja (risos).

Em Pereira Barreto, nós freqüentávamos o kaikan (clube). Eu adorava o undokai (gincana), que unia todas as famílias japonesas. Crianças e adultos participavam de atividades como corrida e cabo-de-guerra e comiam obento (marmita), que cada um levava, com oniguiri (bolinho de arroz), omelete e tsukemono (conserva de vegetais). Os prêmios eram caderno, lápis, mas a gente ficava feliz.

Todos os meus irmãos participavam do nodojiman (concurso de karaokê), mas minha mãe dizia que eu cantava mal. Até hoje eles cantam bastante, e eu não. Mas gosto muito de ouvir a cantora japonesa Misora Hibari.

Lá em casa a gente também festejava em maio o “otoko no sekku” (dia dos meninos). Todo ano, sem falta, meu pai pendurava um enfeite em forma de peixe, que ele mesmo tinha confeccionado com um pano, e a gente festejava.

O “oshoogatsu” (Ano Novo) era a festa mais importante. A gente descansava por três dias e visitávamos casa por casa das famílias japonesas, onde sempre tinha comida farta. E ganhávamos “otoshidama”, um envelope com dinheiro.

Mas o que eu mais gostava mesmo era da apresentação de filmes no kaikan. Eu ficava ansiosa para assistir ao "Pica-Pau", a "O Gordo e o Magro"... Todo mundo ia assistir.

Na minha juventude, pratiquei tênis de mesa e atletismo no kaikan. Eu participava do seinenkai jôshin (grupo de mulheres jovens), que organizava vários eventos. A gente arrecadava dinheiro para poder fazer excursões. Meu pai era muito ativo no kaikan, arrumava passagens de trem para São Paulo com um deputado e alugava um ônibus para nos transportar na cidade de São Paulo.

Aos 16 anos, participei da minha primeira excursão para São Paulo. Fomos ao Parque do Ibirapuera, ao zoológico. Eu achava o máximo. Na segunda viagem, fomos até o Rio de Janeiro, foi muito legal. Lembro da gente pegando a balsa até Niterói.

Eu não me casei por omiai. Passeava com meu namorado, Katsumi Shizuno, na praça, e ia ao cinema ver filmes americanos, brasileiros e japoneses. Ele lutava kendô com meus irmãos e freqüentava nossa casa.

Quando eu e Katsumi ficamos noivos, ele foi em casa entregar o yuinô, que era um envelope de papel muito bonito, com um laço, sobre uma bandeja. Tinha dinheiro dentro, para comprar o enxoval. Me casei aos 22 anos, em Pereira Barreto. Minhas três filhas nasceram lá: Cláudia, Regina e Sandra.

Meu marido foi gerente do Banco América do Sul e foi transferido para várias cidades. Ele levou a família para Marília (SP), Maringá (PR) e Cascavel (PR). Depois, ele mudou de empresa e foi para Londrina. Por todas essas cidades que passei, freqüentei os kaikans. Engraçado, só em São Paulo que eu não freqüento nenhuma entidade japonesa, acabo ficando mais presa em casa. É difícil fazer amizade aqui. Acho que era mais legal viver no interior.

Depoimento à jornalista Kátia Arima


Enviada em: 11/10/2007 | Última modificação: 11/10/2007
 
Infância em Barra Bonita »

 

Comentários

  1. Rita de Cássia Arruda @ 8 Abr, 2008 : 06:11
    Que delícia ler seus relatos, Kinue !!! Gostei muito mesmo. As histórias de sua família, assim contadas (deve haver outras tantas, não é mesmo?!), dariam um livro de memórias fabuloso. Mesmo passagens como aquela, em que seu avó castigou a garotada amarrando todo mundo a uma árvore, ao final, soam engraçadas. Parabéns e obrigada por compartilhar conosco um pouquinho de sua vida.

  2. Desconhecido @ 26 Mar, 2010 : 12:18
    Nossa, comer marmita, fazer gincana pra ganhar lapis e caderno, é tortura, hehehe, mas é legal ouvir histórias assim, agora assistir pica pau e gordo e magro ai é o fim... Hoje em dia não tem mais esse romantismo de namorar no parque, hoje em dias os jovens só querem ir para motel, ficar em hidromassagem, as quais não são de concreto... KKKKKKKKK MAS NO FIM TUDO FICA LEGAL. PS: ADOREI O ALBUM DE FOTOS.

  3. Mario Katsuhiko Kimura @ 27 Mar, 2010 : 14:11
    Dona Kinue, Gostei dos relatos, notadamente por similaridade de vidas sofridas de muitos nikeis, sociedade machista, poucas oportunidades para crianças do sexo feminino, vidas no interior com necessidade de se deslocar para cidade para freqüentar as aulas, casamentos através de miai, festejos de ano novo, atuação nos kaikans regionais e participação em undou kai. Também faço parte dessa geração e registro aqui a minha gratidão por poder deliciar de suas narrativas.

  4. Fernando Shintani @ 8 Jun, 2010 : 19:58
    Sra. Kinue, parabéns pelas belas palavras com que relata passagens de sua vida. A minha geração é totalmente alheia a grande parte disso, e sinto-me gratificado por aprender um pouco através de verdadeiros depoimentos como os seus. Um grande abraço.

  5. ailton @ 24 Out, 2010 : 10:38
    olá,estou fazendo um trabalho de sociologia sobre imigração e assimilação cultural( para o meu curso supletivo) e encontrei suas fotos e sua história. minha mãe é do vale do ribeira,meu avô contava muitas histórias das fazendas e ele falava muito dos japonêses. bom,é só isso. foi um prazer passar por aqui.

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