Conte sua história › Tsukasa Kaito › Minha história
Até os 41 anos de idade, trabalhei na filial brasileira da empresa japonesa de laminação de madeira. Eu gostava do trabalho, mas acho que não tinha mais capacidade de progredir por lá, então pedi demissão.
No começo, foi difícil me adaptar à nova vida. Mas logo pensei: aqui é o Brasil, posso fazer qualquer coisa para viver. Percebi que poderia me sustentar com o dinheiro que ganhava, pois aqui ninguém olha torto. No Japão não é assim, você tem que acompanhar os outros – se um compra um carro, você também tem que comprar. Por isso, nunca sofri por falta de dinheiro aqui.
Passei a ajudar minha esposa na feira e ia uma vez por semana a São Paulo para aprender a fazer violões, com o luthier Shigemitsu Sugiyama, um mestre na arte. Durante um ano, observei seu trabalho. Comecei a vender violões que eu mesmo fazia.
Um dia, assisti a uma apresentação de shamisen em Taubaté. Isso despertou a cultura japonesa que estava adormecida dentro de mim. Só que eu não entendia nada de shamisen. Fiquei com vergonha! Pensei: sou japonês e tenho 44 anos, mas não sei nada sobre o shamisen. Então comecei a aprender a tocar o instrumento, com o professor Katsumi Yonemoto, que me deu aulas por sete anos.
Estranhei a vibração do shamisen. O som de cada nota não é puro, como no violão. Cada corda significa uma geração: uma delas simboliza a pessoa, a do meio, os pais. A terceira corda representa os avós. Quando uma toca, as outras também vibram junto. É uma forma de comunicação com os antepassados.
Ensinei shamisen aos meus filhos Cláudio Ippey, Cíntia Kiyo e César Yohei. Na época, acho que eles não gostavam tanto, mas eu os obrigava. Hoje a Cíntia e o César têm uma escola de música –ela dá aula de piano e ele, de bateria. Também mantém uma loja de instrumentos musicais, no centro de Taubaté.
Também ensinei meus sobrinhos a tocarem shamisen. Hoje, faço parte do grupo Kaito Shamidaiko, com mais sete familiares, e nos apresentamos quase toda semana em festas da comunidade nipo-brasileira.
Tenho alunos que moram em diversas cidades brasileiras: Presidente Prudente (SP), Londrina (PR) e Curitiba (PR). Viajo para lá a cada dois meses para dar aulas. No período de férias, alguns alunos vêm para São Paulo, de cidades como Belo Horizonte, Brasília e Florianópolis. Hoje eu ganho pouco dinheiro, mas me sinto uma pessoa livre. E vejo que fui feliz durante toda minha vida.
De dois em dois anos vou ao Japão, mas sempre com o objetivo de fazer contatos para promover o shamisen no Brasil. Tenho parentes lá, mas não quero mais viver no Japão. Tem muita gente que fala mal do Brasil, mas eu não tenho reclamação. Problemas existem em todos os países, mas não adianta reclamar, tem que resolvê-los.
Depoimento à jornalista Kátia Arima
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil