Conte sua história › Tsukasa Kaito › Minha história
Futebol, samba, Amazônia, carnaval. Era tudo o que eu sabia sobre o Brasil quando cheguei aqui, aos 25 anos de idade, em julho de 1972, de avião. Eu trabalhava numa fábrica de laminação de madeira em Tóquio, e meu chefe me convidou para trabalhar na filial que estava sendo montada no Brasil.
A proposta era ficar dois anos no Brasil. Se não gostasse, poderia retornar ao Japão após esse período. Aceitei, mas sabia que se fosse ao Brasil era para ficar para sempre, pois não teria coragem de dizer que não havia gostado e retornar. Vivo até hoje no Brasil, em Taubaté (SP).
Nasci em 1947 na cidade de Ooishida, na Província de Yamagata, na época uma cidade muito pequenina, do interior. Meus pais trabalhavam na roça, na plantação de arroz, e precisaram da ajuda de meus quatro irmãos: Tookiti, Reiji, Taira e Jin. Eu sou o caçula da família e fui o único que não precisou trabalhar quando criança. Me dediquei somente aos estudos até completar o colegial.
Naquela época eu não sabia, mas depois meus familiares me falaram sobre as dificuldades que tiveram na época da Segunda Guerra Mundial. Havia uma taxa mensal para pagar à escola das crianças, equivalente a cerca de R$ 15 na época. Às vezes, as famílias não conseguiam pagar e tinham que pedir dinheiro emprestado.
Mas as minhas lembranças de infância são boas, pois a situação estava melhorando. No verão, tinha a festa que eu mais gostava: o bon odori. Era em agosto, dia de finados, em que as pessoas se reuniam para festejar e agradecer aos antepassados. Gostava de tudo, principalmente da música que tocava.
Dos 17 aos 24 anos, vivi em Tóquio. Na minha cidadezinha não havia muito emprego. Fui trabalhar numa fábrica de madeira como chefe de produção. Trabalhava mais de dez horas por dia. Estava acostumado a trabalhar bastante, pois era a mentalidade da época. Todos os japoneses estavam se empenhando para fazer o país crescer.
Depois, vim para o Brasil. Desde que cheguei, gostei de tudo. O ambiente é mais alegre, mais iluminado pelo sol e também pelas pessoas. Hoje, convivo mais com japoneses e descendentes que vivem no Brasil. Mas, no início, só convivia com brasileiros. Eu acho até hoje muito difícil falar português, mas eu me virava. Eu era jovem, me adaptei facilmente. Ia a festas, bebia, me divertia. Dormi até em favelas, em palafitas.
Como gerente de produção, morei em várias cidades. Mas não tinha residência, vivia em pensões. Em Taubaté (SP), conheci minha esposa Akiko, que é nissei (filha de japoneses). Ela é feirante e eu era freguês dela. Eu tinha 34 anos quando me casei com ela.
Depoimento à jornalista Kátia Arima
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil