Conte sua história › Takeko Ishida › Minha história
Quanto ao futuro da fazenda, não se podia de modo algum esperar boas perspectivas. Os vinte mil pés de café já estavam produzindo muito e todos trabalhavam felizes na esperança de que doravante, mesmo descontando as despesas de mão-de-obra, renderiam lucros consideráveis. No entanto, o Governo decretou a lei da queima da safra do café, alegando superprodução. No entanto, como havia exceção para o café de exportação, para o café de primeira qualidade, meu marido e seus companheiros pesquisaram o despolpado (secagem no despolpador) e o café que levaram como amostra para o Departamento de Exportação foi felizmente aprovado. Eles voltaram entusiasmados e se empenharam ainda mais na produção do café. Todavia, essa alegria também durou pouco, pois não conseguimos o crédito de exportação em virtude da quantidade insuficiente de café produzido nesse ano, que não alcançou a cifra necessária. Enfim, toda a nossa esperança para o futuro foi descartada.
Compreendi que não havia nenhuma vantagem para nós em ficarmos nessa fazenda por mais tempo e decidi deixar essa terra antes que as crianças chegassem à idade escolar, lamentando muito que isso magoasse os outros membros da família. Levei meio ano até conseguir a autorização de meus sogros e parti para São Paulo com meu marido e as crianças, como havíamos planejado. Foi quando a nossa filha mais velha estava com três anos e meio e a mais nova com um ano e meio de idade.
Aproveitando a oportunidade, os irmãos do meu marido também vieram um a um, mudando-se para São Paulo, até que na fazenda só ficaram os meus sogros já idosos. Havia, porém, mais três famílias de japoneses que trabalhavam como colonos. Após dois anos, creio que meus sogros também se sentiram sós e vieram morar conosco.
Depois disso já se passaram 45 anos e aquela fazenda se transformou em mata novamente, os caminhos desapareceram e não há ninguém morando ali. A causa do fracasso do empreendimento do cafezal deve-se talvez à compra das terras, vendo só em cima do mapa, sem antes visitar o local e sua topografia nem ter verificado as diversas condições de vida, de comunicação.
Apesar de nos termos mudado para a cidade onde tudo é mais fácil do que no interior, na realidade, lutamos muito para viver o dia-a-dia. Para meu marido, que não tinha experiência de vida na cidade, era difícil conseguir um trabalho adequado e mudava constantemente de emprego.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil