Conte sua história › Márcia Mieko Morikawa › Minha história
– «Chouchou», respondia eu à pergunta da professora logo no primeiro dia em que eu ia para a escola primária brasileira.
Todos olharam com ar indignado para mim e eu repetia obstinada:
- «Chouchou»!
A professora voltou a insistir diante da figura de uma borboleta colorida desenhada num papel de cartolina pendurado no quadro negro: – “Quem sabe o que é este desenho?”
Enquanto um e outro coleguinhas respondiam – “Borboleta”!, eu insistia no meu léxico japonês: - «Chouchou»!
A professora, já com ar constrangido, olhou para mim e calmamente disse: – “Isto é uma borboleta. Uma bor-bo-le-ta. Nunca viu uma no jardim de sua casa?”
Já com lágrimas nos olhos tornei a repetir: – “Não, é uma «chouchou»... Uma «chouchou»... «chouchou desuyo»!” Não conseguia compreender como é que eles não acreditavam em mim, óbvio sendo que aquilo era uma «chouchou». Os meus coleguinhas sim, talvez suas mães não lhes tenham ensinado, mas a própria professora não saber que aquilo era uma «chouchou»? Francamente!
A situação de "loucura" em que me encontrava repetiu-se várias vezes: «wantchan», «hana», «ie», etc. Sorte das sortes, entretanto, a minha situação foi salva quando soube que aquela não era a professora efetiva, mas que estava a lhe substituir por duas semanas. Quando chegou a professora efetiva, no mesmo dia eu passei de "louca" a "japinha" aos olhos dos meus coleguinhas: ela era nikkei!
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil