Conte sua história › Angela Hirata › Minha história
Meu sobrenome Hirata é de uma família japonesa que imigrou para o Brasil no ano de 1929. No Japão eles eram comerciantes na cidade de Osaka, com raízes na província de Ishikawa. Meu pai, Takeo, nasceu em uma família com muitos recursos, mas meu avô, Chomatsu, faliu com a crise da Bolsa de Nova York. Como a sociedade japonesa exerce uma pressão muito grande em relação ao sucesso profissional, Chomatsu se viu obrigado a imigrar para o Brasil. Sua meta era voltar para o Japão em dez anos. A família viajou 60 dias de navio até o Porto de Santos, de onde seguiu para a Hospedaria do Imigrante, no Brás, em São Paulo. Meu pai tinha 11 anos na época. Já de início eles enfrentaram problemas de comunicação, alimentar e cultural. Na inspeção médica detectaram que meu tio tinha uma virose. Minha avó, Kazue, ficou com ele na hospedaria por mais uma semana. Meu avô e meu pai seguiram para uma fazenda de café no noroeste do estado de São Paulo.
Kazue, acostumada a viver cercada de empregadas, não se conformava com aquela situação. Entrou em depressão profunda. Com 11 anos de idade, meu pai ia para a roça apanhar o café e também tinha que cuidar da casa. Meu avô também entrou em crise por não ter proporcionado o que desejava para a família. Entregou-se à bebida. Takeo, muito jovem, passou a ser o arrimo da família. Mas, nessa época, ele entrou na fase da adolescência. Permaneceu isolado por uns seis meses. Apesar dos problemas, Chomatsu era um bom comerciante e, aos poucos, conseguiu melhorar a condição da família. Minha avó começou a aceitar um pouco mais a situação. Quando conseguiram recuperar o que haviam perdido, eles podiam ter voltado para o Japão, mas resolveram reinvestir o ganho no Brasil.
Quando vieram para o Brasil, Chomatsu e meu bisavô fizeram um pacto de manter o vínculo familiar. Meu pai voltou para o Japão 43 anos depois e reafirmou esse compromisso. Temos uma prima distante que estudou advocacia na Universidade de Tóquio. Quando se formou, pediu de presente uma viagem para conhecer a família do Brasil. Ela esteve conosco um mês, conheceu toda a família e até hoje mantemos o relacionamento vivo.
Minha mãe veio para o Brasil com 12 anos, mas perdeu os pais muito cedo. Não conheci meus avós maternos. A família dela vivia próximo à de meu pai, em Marília (SP). Minha mãe foi uma mulher muito forte. Faleceu há três anos. Embora não demonstrasse, era ela que controlava toda a família.
Depoimento à jornalista Juliana Almeida
Fotos: Everton Ballardin e arquivo pessoal de Angela Hirata
Vídeos e áudios: Estilingue Filmes
"Meu avô sempre dizia que o Brasil era a nossa terra"
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil