Conte sua história › Patrícia Hamada Yoshida › Minha história
A história da minha família no Brasil não se difere de todos os imigrantes e descendentes japoneses que escolheram o País para viver. Meus avós paternos, Mite e Mosuke Hamada, desembarcaram no porto de Santos na década de 40 e logo foram trabalhar em uma fazenda de café na região de Santo Amaro, em São Paulo.
Meu avô materno Kagekyo Yamamoto era marinheiro no Japão e só não lutou na guerra para ir atrás da família que havia imigrado ao Brasil. Apesar de ter cumprido dois anos de treinamento no navio de guerra, recusou a aposentadoria concedida pelo Japão aos combatentes, por considerar que não seria justo. Sua atitude reflete bem o espírito japonês de honradez.
Meu pai sempre me conta que foi um período difícil para os meus avós. No início, moravam em casas feitas de madeira, o trabalho era árduo e havia a barreira da língua e dos costumes. A situação melhorou bastante quando a família se mudou para a região bragantina, quase divisa com o sul de Minas Gerais. Lá, entre as cidades de Vargem e Extrema, as famílias japonesas foram se conhecendo e formaram uma comunidade que perdura até hoje.
A casa onde cresci foi construída pelo meu avô Mosuke, um exímio carpinteiro que havia também trabalhado com navios no Japão. Tive a oportunidade de conviver bastante com ele e me lembro que passava horas jogando o shogui – uma espécie de xadrez. Minha avó Mite já havia falecido quando nasci. Parentes e amigos da família a descrevem como uma mulher enérgica que sabia tocar o shamisen (instrumento de cordas) com perfeição.
Guardo boas lembranças do meu avô Kagekyo. Gostava de folhear os seus livros e herdei dele o gosto por mapas topográficos. Era uma pessoa culta e tranqüila, que administrou por muitos anos uma granja em um bairro rural de Atibaia (SP). Juntamente com minha “batian” Mite, hoje com saudáveis 84 anos, criou quatro lindas filhas: Helena, Anita (minha mãe), Júlia e Conceição. Imagino que os moços da vizinhança deviam ficar alvaroçados com as filhas do “Yamamoto-san”.
Eu e meus irmãos, Luciana e Alexsandro, somos netos de três avôs e três avós. Como meus avós Mosuke e Mite não podiam ter filhos, adotaram o filho do irmão mais novo da minha avó, Takemori Jomori. Situação difícil nos dias de hoje, na época se tratava da perpetuação do sobrenome, questão de honra para os japoneses.
Mesmo sendo de quarta geração – yonsei –, há muita influência da cultura japonesa no meu jeito de ser e resgatar a história dos meus avós reforçou o orgulho pelo legado que eles deixaram. Minha mãe me disse uma vez que “a família é a raiz forte que te segura”, e é esse ensinamento que quero passar para os meus filhos. Até hoje, quando retorno à casa dos meus pais, passo no “hotokesan” (altar japonês) e acendo senkôs (incensos) para os meus avós e agradeço. Simplesmente por tudo.
Compartilho essa maneira de pensar com meu marido, Eraldo, que também traz histórias de antepassados parecidas com as minhas. Um fato curioso entre nós é que quando minha avó Time era adolescente, ela morou na mesma cidade dos pais e tios do Eraldo, em Santo Anástacio, oeste do Estado de São Paulo. Quando já estávamos casados descobrimos que as famílias se conheciam e foi muito bonito presenciar o reencontro entre eles. Sempre brinco que os japoneses estão ligados em rede. Taí um bom exemplo!
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil