Conte sua história › Mauricio Thuguio Nomura › Minha história
A história da minha família daria um bom filme de drama ou livro... São muitas coisas para falar, que nem sei por onde começar.
Como são muitas partes, faço um resumo.
Meu pai nasceu no japão em outubro de 1939, e veio do Japão aos 15 anos, chegando com a família no porto de Santos em 1954. Esta infância não conheço bem, pois meu pai falou pouco. Sei que ele viveu trabalhando em Cafelândia, na plantação de café. Depois, foi trabalhar em Gália na criação do bicho da Seda. Morou em sítios de onde trabalhava, em situações de muita pobresa. Casou-se com uma mulher, japonesa, e que posteriormente, faleceu de câncer e foi enterrada em Gália. Nesta época, meu tinha um bar em Bauru.
A história da minha mãe já é de muito sofrimento. Os pais dela vieram do Japão junto com parentes. Um destes parentes (tio dela) veio expulso do Japão por causar muita desonra na família por ser alcoólatra. Junto com esse tio (Shitiro Kimura) veio a esposa (minha avó de criação, Fuyu Kimura).
Toda a família veio a trabalhar na criação do bicho de seda na região de Gália, interior de São Paulo. Estes meus avós de criação (Shitiro e Fuyu Kimura) não podiam terem filhos (ele era estéril). Assim, os parentes eram obrigados a doar um filho para estes parentes por não poderem terem filhos. Assim, meus avós verdadeiros doaram a minha mãe, Orlanda, com a idade de 3 anos, nascida em Fernão Dias, próxima à Galia. Meus avós verdadeiros (Mike e o marido Shibuya, não lembro o nome), não queriam doar a filha (era a caçula), e para não terem mais contatos, os meus avós de criação, mudaram para bem longe.
Durante a vida da minha mãe com a nova família, foi somente sofrimento. Por ser de doação por necessidade, e não por amor, os pais adotivos não tinham um carinho sequer, e a fazia minha mãe de empregada ou escrava. Isto foi desde os 3 anos até aos 27 anos, quando foi "forçada' a se casar com alguém que ela não conhecia. Como estes meus avós queriam que ela continuasse a morar junto, ela deveria se casar com alguém bem pobre e sem instrução. Foi aí que conheceram meu pai. Durante toda a vida adolecente da minha mãe, ela sempre morou em sítio, e cuidava do avô adotivo que bebia, e vivia doente, espancando minha mãe constantemente. Ela vivia sempre com fome, com muita pouca comida e roupa. Nunca teve lazer, somente trabalho. Isto desde os 3 anos de idade. Quando minha mãe se casou com meu pai Kenji Nomura, depois de um ano, eu nasci. De tanta briga que minha avó gerava na família, meu pai figiu de casa, logo quando eu tinha uns 2 anos de idade. Ficou ums 6 meses fora e retornou. A vida de meus pais sempre foi de sofrimento. Meu avô adotivo faleceu antes dela se casar, muito doente. Meus pais como sempre trabalharam na roça, começaram a trabalhar na feira, em Bauru. Assim, aos poucos, foi melhorando o meio de vida da família. Mas, meu pai sempre bebia, ainda mais com as constantes discussões com minha avó adotiva. Nasceu meu irmão do meio (washington) , e após, a minha irmã caçula (Jaqueline).
Meu pai pouco falava do passado dele, mas a minha mãe, sempre conversava que sofreu muito na vida.. uma vida de escravidão e sem amor em família.
Em meados de 1990, a mãe dela verdadeira ficou velha, o marido faleceu, e teve de ir morar junto com a filha doada, junto com a avó adotiva... A minha mãe teve de acolher a mãe que a abandonou quando ela tinha 3 anos... e isto para ela, parece nunca sair das lembranças dela.
As duas avós moraram por muito tempo, e sempre tendo discussões, pois elas nunca foram amigas.
Esta avó adotiva ficou doente, 3 meses de cama, e 3 longos meses sendo tratada com sonda alimentar, limpeza, e etc de etc que a minha mãe cuidou dela... cuidou com carinho e dever, de alguém que a fez sofrer por quase uma vida inteira. Ela faleceu em novembro de 2002. Mas tarde, a avó verdadeira dela começou a ficar muito doente, e como meu pai, em 2003 teve AVC e fez cirurgia cardíaca, e houve complicação pós-cirúrgico, a minha avó foi morar com meu tio, Kenity Shibuya, que mora em São Paulo capital. Meu pai não ficou normal após o AVC, pois afetou o cérebro. A minha mãe, que sofreu muito ao cuidar da minha avó adotiva, teve de cuidar da avó verdadeira e agora, cuidar de meu pai, pois as questões fisiológicas, não têm controle.
Em 2006 minha avó verdadeira faleceu, em São Paulo, e foi trazida para Bauru. Hoje, eu faço o possível para que a minha mãe tenha paz, tranquilidade e sossego, pois a vida dela inteira, foi de sofrimento. E ainda hoje, ela sofre para cuidar de meu pai, que têm problemas de saúde. Em todo o momento da minha vida, apesar da família pobre, sempre tive ajuda deles, e hoje, graças a DEUS e àos meus pais, tenho tudo o que tenho por causa deles.
Em toda esta vida, tem muitos detalhes que aqui não dá tempo para contar.... as pessoas que conheceram de fato os meus pais, a minha família na antiguidade, muitos já morreram... são histórias da minha família que muita gente não acreditaria, nos dias de hoje.
Graças a DEUS, hoje eu sou casado, tenho dois lindos filhos (Natália e Thiago) , tenho um emprego relativamente bom para mim, e que dá para cuidar de meus pais. Casei com uma Pernambucana que conheci em Marília. O nome dela é Luciana. Meus filhos são lindos mestiços!
FIM!
Esta é a vida da minha família.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil