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Fiscalização do lixo é uma prática enraizada
Seguir corretamente a programação da coleta do lixo torna-se uma das primeiras regras para os estrangeiros... eu experimentei esta preocupação com o lixo muito de perto. Cheguei em Toyohashi, cidade que tem alguns milhares de brasileiros, ouvindo aquela famosa frase: "quer aspirador de pó, é só procurar no Gomi Grande... Gomi é lixo. A brasileirada tinha o hábito de vasculhar o local onde os japoneses podem, uma vez por mês, acumular o "lixo grande" (móveis estragados ou de pessoas falecidas), aparelhos de aúdio e vídeo ainda em condições de uso mas já ultrapassados, entre outras quinquilharias. Na verdade, nunca consegui fazer o mesmo, mas me divertia com as histórias de um videocassete que um operário (brasileiro que em sua terra natal era técnico em eletrônica) pegou no lixo, abriu para consertar e encontrou um senhor anel feminino de diamantes travando o funcionamento. No Japão, devido ao alto custo da mão de obra (o mesmo que faz os salários de operários serem tão atraentes para brasileiros) praticamente não há oficinas de conserto de nada, porque consertar sai mais caro do que comprar um novo. E há um grande incentivo para a sociedade consumir, o que gera divisas e empregos.
Outra coisa interessante é que como as bandejas de isopor (que acondicionam carnes, vegetais, etc) são lixo não-incinerável, cuja coleta é geralmente feita só uma vez por semana, nos supermercados há um balcão com saquinhos de lixo (daqueles de rolos, que a gente usa para por frutas) onde as donas de casa japonesas rapidamente se desfazem dos isopores jogando-os no lixo ali mesmo, deixando ao encargo do estabelecimento. Porque já pensou, naqueles "apatos" e casas pequenos, ainda ter que guardar lixo de isopor por uma semana?
Separar todo o lixo doméstico produzido é uma prática já enraizada no Japão. E, ainda que poucos japoneses misturem o lixo ou o joguem em locais inadequados, a grande maioria é bastante rigorosa com relação ao assunto. Dessa forma, seguir corretamente a programação da coleta para cada tipo de lixo torna-se uma das primeiras “regras” para os estrangeiros que chegam ao arquipélago para fixar residência.
O lixo é dividido em categorias. Há o lixo incinerável, que inclui restos de alimentos, papéis não-recicláveis e tecidos; o lixo não-incinerável, classificação para artigos de plástico, couro, borracha ou vidro, entre outros; o lixo de grande porte, que pode ser incinerável ou não; o lixo tóxico ou perigoso, como é o caso de derivados de petróleo, aerosóis, pilhas e baterias; e o lixo reciclável que, ainda assim, se subdivide entre papéis, latas e garrafas pet. Necessariamente, os sacos de lixo devem ser transparentes ou de cor branca quase transparentes, para que os funcionários da coleta possam identificá-lo e verificar se a separação foi feita adequadamente.
Não é exagero afirmar que os japoneses costumam “vigiar” o lixo de um novo vizinho estrangeiro, para certificar-se de que ele o está separando corretamente. Além de evitar atritos e problemas com seus vizinhos ou mesmo a imobiliária, quem chega de um outro país e demonstra preocupação em seguir essas regras “ganha pontos” e respeito com a vizinhança. É uma forma de demonstrar senso de disciplina e organização, valores diretamente identificados com a sociedade japonesa.
Os japoneses realmente vigiam o lixo e em Tokyo eu e meu marido vimos uma cena engraçada. Os lixeiros (que lá usam roupa super bonita, um uniforme parecido com de policial, com luvas e limpíssimo) estavam olhando num saco de lixo para detectar alguma coisa que identificasse o dono... acharam uma carta e foram lá bater na casa da pessoa e devolver o lixo, porque estava no dia errado. Quando não há ninguém em casa, eles simplesmente escrevem um bilhete explicativo (e meio ameaçador) e grampeiam no saquinho, que é deixado na porta do "infrator".
Assim como a separação do lixo por categoria é importante, quem chega ao Japão vindo de outro país deve estar atento aos dias da coleta de cada um, informando-se junto à prefeitura local. Geralmente, essa prática é incentivada desde a chegada do estrangeiro. Em Nagoya, cidade que aspira o título de “sociedade da reciclagem”, a prefeitura distribui aos ‘gaijins’, assim que eles chegam, uma espécie de “manual da vida cotidiana”, em que um dos primeiros itens trata do lixo. O manual possui versões em inglês, português, espanhol, coreano, chinês e filipino, e explica como separar o lixo, como informar-se sobre os dias da coleta seletiva em cada bairro e indica os pontos de recolhimento do lixo reciclável.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil