Conte sua história › Karina Yamamoto › Minha história
Sou mestiça, matogrossense por parte de mãe e japonesa por parte de pai. A primeira coisa que aprendi sobre minha ascendência foi que meu pai não era japonês, era "filho de japoneses". Pode parecer sutil, mas como vim a aprender no decorrer dos anos, os japoneses são o povo das sutilezas. Criada num lar completamente ocidental - para vocês terem uma idéia, peixe cru para mim era uma idéia difícil de digerir até os 18 anos -, eu demorei muitos anos até identificar as minhas características de olhos puxados.
Quando eu tinha lá pelos 10 ou 11 anos, meu pai me disse uma vez que os japoneses não costumavam abrir os presentes logo ao ganharem, na frente daqueles que haviam dado o mimo. Na época, ele havia apenas me dito: "assim você não corre o risco de demonstrar decepção se não gostar, agradeça de coração e esse agradecimento será sincero". Eu realmente tomei aquele comentário como uma regra de conduta. Já adulta, num de meus aniversários, uma amiga bastante íntima veio me perguntar: "Poxa, kazinha, você nem deu bola para o meu presente..." Eu rebati na hora: "Como assim? Eu adorei que você tenha tido esse carinho comigo!". Nesse momento, uma ficha caiu.
Aquela regra que meu pai me ensinara me fazia educada somente para o público japa. Quase 20 anos depois eu percebi que devo ter passado por mal educada para muitos dos meus amigos. Hoje, eu tento me policiar para abrir o presente assim que ele chega nas minhas mãos. Mas confesso que, muitas vezes, eu preferiria seguir o hábito que meu pai me ensinou.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil