Conte sua história › Marlene Yumi Ijichi › Minha história
Ao pensar na sociedade japonesa em São Paulo, não se pode deixar de falar de Yoshitomi Yagura. Ele trabalhou intensamente durante quase 50 anos para fazer com que a sociedade japonesa da zona norte se organizasse e permitisse que a cultura e a língua japonesa fosse preservada no Brasil.
Veio com quatro anos de idade ao Brasil, em 1929, no navio Hakata Maru junto com seus pais e irmãos, e se instalaram na região de Nova Aliança, noroeste de São Paulo próximo a Mirandópolis. Sua família não veio como colono, pois antes de virem para o Brasil tinham comprado um lote terra, onde um cunhado do seu pai já morava. Este, chamado Shimizu, foi quem chamou a família Yagura para vir ao Brasil.
A princípio Yoshitomi trabalhou como agricultor junto com sua família, mas após dez anos ele se separou e foi trabalhar em Mirandópolis na loja da família Hombo. Lá ele conheceu Etsuko Ijichi com quem se casou mais tarde. Em 1951, junto com sua esposa e seu primeiro filho, ainda bebê de colo, mudaram-se para São Paulo e foram morar na região de Santana, onde seus pais e o irmão Yoshiyuki Yagura já moravam.
Nessa época Yoshitomi começou a se preocupar com a educação dos jovens nikkeis que ficavam na rua entre os brasileiros e poderiam perder a alma japonesa. Ele então pensou na necessidade de se criar um local para que os jovens se reunissem, pudessem estudar a língua e cultivar a cultura japonesa, para que essa cultura não fosse perdida. Com o próposito de mostrar para a comunidade nikkei essa importância, ele sempre se preocupou em desenvolver atividades atraentes aos jovens. O primeiro passo foi a construção de um kaikan, que foi construído com o dinheiro arrecadado em concursos de nodojiman, na década de 50. O nodojiman foi um dos recursos para atrair os jovens e fazê-los utilizar a língua japonesa através da música, e que também serviu para manter a união entre os nikkeis. Esta atividade deu origem aos atuais concursos de karaokê.
Outra atividade desenvolvida com o propósito de unir os jovens foi a realização de bailes. Yoshitomi foi um dos pioneiros dessa atividade, promovendo o seu primeiro baile na garagem de sua casa na década de 60. Os jovens foram envolvidos na organização desse baile, sendo eles responsáveis pela confecção e venda dos convites e lembrancinhas. O grupo, motivado para novas realizações, cresceu e trabalhou para a construção e ampliação da sede da Associação Cultural e Esportiva Tucuruvi, que nasceu em meados de 1962.
Yoshitomi foi o presidente do departamento de jovens dessa associação entre os anos de 1960 e 1964. Por estar sempre ligado a associações de japoneses foi um dos diretores da Federação das Escolas de Japonês do Brasil da zona norte da capital de São Paulo em 1985, e neste mesmo ano participou da criação do Centro de Difusão da Língua Japonesa no Brasil. Como incentivador de esporte, na década de 70 conduziu um grupo de jovens, a partir de 10 anos, para a prática do atletismo e futebol. Foi presidente da ANASP da Associação Cultural e Esportiva Piratininga, onde incentivou a realização do atletismo.
Em 1987, Yoshitomi teve a oportunidade de visitar a sua cidade natal em Nagasaki. Nessa ocasião ao visitar a praça onde estão expostas as esculturas de várias nações em homenagem às vítimas da bomba atômica, ele percebeu que não havia lá uma do povo brasileiro. O Brasil que possui a maior comunidade japonesa fora do Japão não havia enviado até aquele momento uma homenagem. Ficou decepcionado, mas foi com muita satisfação que na sua visita seguinte ele conheceu a escultura do Brasil.
No interior de Yoshitomi Yagura, hoje com 83 anos, percebe-se que vive o autêntico espírito japonês. Seja no seu raciocínio, no seu conversar ou nas suas ações, é nítido e perceptível a ética e os valos nipônicos sendo transmitidos às pessoas com quem ele convive. Muitas pessoas envolvidas com associações nikkeis ou que trabalham pela promoção da cultura japonesa, percebe-se, não aplicam esse espírito em seu cotidiano, seja em casa ou no trabalho. Yoshitomi é um defensor autêntico e disseminador do verdadeiro espírito japonês. Apesar de sua idade, não pensa em aposentar-se, e é um ativo representante comercial pela Camil Alimentos, empresa em que atua há 37 anos, que ele ajudou e ainda ajuda a crescer e pela qual já foi homenageado como seu vendedor número 1.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil