Conte sua história › Marlene Yumi Ijichi › Minha história
Neta e filha de japonês sempre tive a vontade de conhecer a terra natal dos meus ancestrais. Desde criança aprendi a língua japonesa freqüendando o nihongo gakko e também pelos meus avós. Aos quatro anos quando entrei no gakko comecei a entrar em contato com o português. Aos pouco, passei a usar o portugês em casa o que desagradava muito os meus pais e avós. Passei por um período onde quase perdi esse conhecimento devido a falta de uso, mas sentindo e percebendo a necessidade e a importância da língua japonesa para os meus objetivos, consegui retomar os estudos.
Fiz os meus estudos de primeiro e segundo graus em escola pública, sendo este último um curso técnico em nutrição. Pensava em estudar na área da saúde, pois queria um dia ser cientista. Não sabendo exatamente o que queria prestei vestibular para odonto. Queria também medicina, mas acabei fazendo biologia. Bióloga formada pela Universidade Mackenzie em 1987, fiz estágios em imunologia e parasitologia no Laboratório de Protozoologia do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP e no Laboratório de Parasitologia do Instituto Adolpho Lutz.
A faculdade me possibilitou concorrer a uma bolsa de estudo no Japão pela JICA. Por um ano e seis meses realizei meu estágio no Departamento de Medicina Tropical e Parasitologia da Faculdade de Medicina da Universidade Keio em Tóquio e, por mais seis meses na área de biologia molecular no Departamento de Parasitologia da Faculdade de Medicina da Universidade Juntendo também em Tóquio.
A bolsa de estudo me permitiu realizar o meu sonho de conhecer o Japão, terra dos meus antepassados. Por dois anos fiquei estudando e também conhecendo o Japão, sua história, cultura, costumes e hábitos tão diferentes dos que estamos acostumados aqui no Brasil. Foram os meus dois melhores anos da minha vida.
Éramos um grupo de treze pessoas, sendo sete brasileiros, uma peruana, uma chilena, dois bolivianos uma da República Dominicana e uma uruguaia todos descendentes de japoneses. Cada um com formação em áreas distintas sendo encaminhadas para faculdades diferentes. Costumávamos nos encontrar com freqüência para atividades culturais como também para diversão.O começo foi difícil, precisava montar um apartamento para morar. Tive ajuda de várias pessoas entre professores, colegas de laboratório e colegas bolsistas, o que me facilitou bastante. Morei por um mês junto com outra bolsista a Naoko Tamashiro um boliviana, ela era muito animada e divertida, da qual tenho saudades.
Meu apartamento ficava perto do Hospital da Keio em Shinanomachi um lugar privilegiado pela sua beleza e facilidade de locomoção por Tóquio. De lá era possível ir a pé até o Parque Shinjuku Gyoen, e também até o Aoyama doori, local famosos pelo ityo namiki. Costumava ir a pé até Shinjuku, Harajuku, Shibuya e arredores. Aos pouco fui aprendendo como utilizar o trem e a ver a praticidade de se viajar com esse meio de transporte, o que não é costume no Brasil. Não viajava muito, mas conheci alguns dos principais pontos turísticos do Japão. Aprendi a apreciar a beleza da mudança das estações do ano (a primavera cheia de flores com o seu colorido a embelezar a cidade, o verão quente e abafado, o outono romântico com as quedas das folhas e o inverno com sua neve) e os perigos dos fenômenos da natureza, como os terremotos e os furacões.
Fui visitar Kagoshima no meu segundo ano, conheci a casa onde meu pai nasceu e alguns parentes que lá vivem. Também tive a oportunidade de visitar o cemitério da família.
Após o término do estágio, voltei ao Brasil com a intenção de encontrar um emprego na área de biologia molecular. Fiquei por mais ou menos seis meses fazendo estágio na Escola Paulista de Medicina em biologia molecular com a intenção de aprimoramento, mas devido a falta de uma bolsa auxílio para custear despesas, parei o estágio. Como não estava fácil encontrar um emprego, junto com meu noivo, que era farmacêutico, compramos uma farmácia à qual demos o nome de Keio em homenagem a Universidade onde estudei em Tóquio. Atualmente casada e com duas filhas ajudo na administração dessa empresa.
A minha vontade de ser cientista e o sonho de conhecer o Japão foi concretizada. Apesar de não estar trabalhando na área na qual estudei, não acho que os meus dois anos de bolsa foram em vão. O período que passei lá me trouxe muito conhecimento e me deu experiência. Sinto orgulho por esse meu feito. Da época do Japão ainda tenho contato com o meu professor da Keio e com alguns dos meus colegas ex-bolsistas, pelos quais tenho muito carinho e sinto saudades.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil