Conte sua história › Marlene Yumi Ijichi › Minha história
A história da família Ijichi no Brasil começa com a imigração do meu avô Satoshi, que irá completar 73 anos de imigração no ano do centanário. Originário de Kagoshima, a província do "Último Samurai" Saigo Takamori, era o primogênito de nove irmãos.Tinha 29 anos quando veio com sua esposa e dois filhos.
Ele, como muitos outros japoneses,decidiu imigrar para outro país na esperança de um futuro melhor. O Brasil era a sua segunda opção, queria a princípio ir para o Havaí onde morava uma tia, porém esta não o aceitou decidindo-se pelo Brasil.
Pelo porto de Kobe, Satoshi, Tomie (25 anos) sua esposa e seus dois filhos Etsuko (2 anos) e Shinichi (9 meses), embarcaram no navio chamado La Plata Maru em direção ao Brasil. Após mais ou menos um mês de viagem, em primeiro de março de 1935 eles desembarcaram no porto de Santos.
Ao chegarem se instalaram no município de Tietê, onde eles haviam comprado um lote de terra da Bratac no Sítio de União. Após alguns anos se mudaram para Ponte Pensa, depois para Pereira Barreto. Nesses lugares Satoshi trabalhou com o cultivo de amora e criação de bicho-da-seda, atividade que sua família exercia no Japão. Em Pereira Barreto Satoshi, Tomie e Etsuko trabalharam na Cooperativa Agrícola Instituto de Sementagem de Bicho-da-seda.
Satoshi e sua família passaram por muitas dificuldades devido a saúde precária da Tomie e também pela falta de habilidade do Satoshi em trabalhar a terra. Contraiu dívidas com um colega, o qual foi quitado após vários anos de trabalho. Como ele foi professor primário no Japão, devidiu mudar-se para Mirandópolis onde passou a trabalhar como professor de japonês. Nessa época Etsuko foi trabalhar e morar na casa da família Hombo, para ajudar a diminuir as despesas da casa. Lá Etsuko conheceu Yoshitomi Yagura, com quem se casou mais tarde.
Na época da Segunda Guerra Mundial, novamente eles passaram por dificuldades devido a discriminação que sofreram. Satoshi não pode mais dar aulas devido a proibição do governo federal.
Ele tinha um vício, o de jogar em jogo do bicho. Certo dia ele ganhou um bom prêmio em um jogo. Com esse dinheiro ele investiu em uma tinturaria em Mirandópolis, e mais tarde mudou-se com a família para São Paulo onde também trabalhou com tinturaria na região da Avenida Cursino, mudando-se depois para Santana onde passou a trabalhar com secos e molhados. Etsuko que foi morar em São Paulo muito tempo antes que eles, também morava no bairro de Santana. Já com o meu pai Shinichi no comando da família, e junto com o Yoshitomi Yagura criaram a empresa Ijichi & Yagura Cia., um pequeno mercadinho.
Em Santana Satoshi participava da Associação Cultural e Esportiva do Tucuruvi, o qual ajudou a fundar e foi presidente em um período. No final da década de 60 a família se mudou para a região do Campo Limpo na zona sul onde passaram a trabalhar no comércio de bazar. Satoshi participou também de outras associações como o do Pirajussara e do Taboão da Serra, além do Kenjinkai de Kagoshima.
Meu avô teve a oportunidade de visitar o Japão por três vezes, mas a grande tristeza dele foi o fato de não ter conseguido voltar ao Japão para se reencontrar com seu pai. Satoshi morreu aos 83 anos. Apesar de todas as dificuldades pelo qual passou, nunca se arrependeu de ter vindo ao Brasil, considerando esse país o seu lar.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil