Conte sua história › Tieko Fujiye › Minha história
O meu pai Buichiro Fujiye, nascido em 13/07/1922, em Hokkaido no Japão, veio ao Brasil acompanhado dos pais e irmãos no ano de 1930.
Papai era muito dedicado, trabalhador, íntegro, transparente em suas ações e atitudes.
Gostava muito da família, dos irmãos e da irmã Tsuruno. Ele sempre contava a história de que no passado, uma tia veio em sua casa no Japão buscá-lo para ser adotado como neto da Tia. A irmã levou-o para longe para ela desistir da idéia, por isso tinha uma gratidão e muito carinho por ela.
Foi motorista de caminhão, sofreu muitas dificuldades na época da 2ª Guerra Mundial, na época em que os combustíveis eram vendidos para brasileiros.
Casou-se aos 26 anos com a minha mãe, depois de várias tentativas de pedido frustradas pelo meu avô. Teve cinco filhos, dos quais teve 8 netinhos, como costumava dizer e finalmente se encantou ao conhecer a bisneta Bianca.
Na sua profissão de motorista ele conseguiu auxiliar muitas famílias no interior de São Paulo, na cidade de Tapiraí, fazendo compras para muitos familiares, levando materiais de consumo da capital, na década de 40 e também fazendo transporte de mudança.
O seu perfil era de uma pessoa quieta, de confiança e muito ponderado. Com o passar do tempo, gostava muito de conversar, principalmente com os jovens, contando as suas histórias, as suas experiências de vida.
Ele dizia que seguir uma religião fica a critério de cada um e que quantidade da fé não é o importante, mas as nossas ações no cotidiano que nos levam ao paraíso ou ao inferno. Que todos nós temos uma energia vital e que o "Deus" é a soma de todas as energias e que cada um tem o direito de escolher, por isso um precisa do outro, para conseguir a verdadeira paz interna. Mesmo assim, não deixava de ir ao templo para orar aos antepassados, sendo que na semana do seu falecimento foi ao templo, conversou, agradeceu a todos e disse que estava pronto para morrer.
A minha relação com meu pai era muito boa, quando ele se aposentou em 1971, teve a oportunidade de acompanhar os meus estudos, me incentivando a prosseguir sempre, pois para ele o conhecimento que temos, nínguém tiraria, pois na vida tudo passa, menos a aprendizagem que possuímos.
Nas minhas lições de geografia ele me auxiliava, pois conhecia o nome de todas as capitais do mundo e a sua localização sem olhar o mapa ou o globo, mesmo tendo estudado até a quarta série´.
Lembro também de um jogo que ele trouxe na bagagem quando veio do Japão, que parecia um mapa e percorríamos os caminhos através de dados lançados.
Nas comemorações da imigração japonesa ele costumava levar os filhos, sobrinhos e até chegar aos 80 anos, falava que gostaria de viver até esta idade, mas ao completar, dizia que talvez aguentasse viver até os 90 anos, será que era para poder particpar das comemorações do centenário? Não sei...
Com a proximidade das comemorações recordo de muitas lembranças da minha infância.
Até hoje me lembro na data de seu aniversário que ele sempre nos disse que às vezes nós não somos compreendidos pelas outras pessoas em determinada época, porque todos querem ter a razão, mas que o tempo é o melhor remédio para revelar quem tinha razão...
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil