Conte sua história › Tieko Fujiye › Minha história
Quando a família do meu pai chegou ao Brasil, vindo de Hokkaido, eles partiram de Santos para o Estado do Pará, em Belém, Tomé Açu, onde permaneceram durante alguns anos. Trabalharam com extração de madeira e sofreram muito com a malária. Meu tio Kimpei faleceu lá. Vovó sofreu muito nessa região.
Papai contava que as famílias de imigrantes tiveram o apoio de padres da região e de um advogado, o Dr. Álvaro Adolpho, com o qual papai aprendeu muito a lidar com as leis brasileiras. Como o meu avô não falava português, papai servia de intérprete, mas ele dizia que também não compreendia muito bem, pois no Brasil, as leis eram muito diferentes.
Os costumes eram bem diferentes naquela região. O clima também era. Onde eles moravam no Japão, havia frio intenso. Papai se lembrava do tempo em que esquiava. Naquela época, ele era ainda criança, tudo parecia bonito. Ele brincava muito, enquanto o vovô e meus tios trabalhavam.
Na escola da região, ele estudou até a terceira série. Ele concluiu a quarta série na escola João Kopke, em São Paulo. As dificuldades de aprendizagem da nova língua eram muito grandes, mas com a dedicação dos professores, os imigrantes conseguiram aprender o idioma (apesar dos membros de cada família conversarem entre si em japonês).
Após o falecimento do meu tio Kimpei, a família mudou-se para São Paulo, no município de São Bernardo do Campo, no bairro de Mizuhô. Depois foram para o município de Tapiraí, em São Paulo, quando meu avô comprou terras.
Eu sempre ouvia Papai contar que conhecera a mamãe antes do meu tio casar-se com a minha tia. Em 1940, ele conheceu a Mamãe e pensou que ela fosse casada, pois ela estava com um bebê no colo. Mais tarde ele descobriu que a minha mãe era solteira. A mãe do bebê era a irmã dela. A minha avó, a minha mãe e a minha tia tinham ido fazer o registro de estrangeiro e, como elas não falavam a língua portuguesa, o responsável chamou meu Pai, pois não entendiam o que estavam falando.
Na época em que meus pais se casaram, era comum o casamento por apresentação (omiai), onde uma pessoa conhecida da família procurava a família da moça para apresentar a proposta. Muitos noivos só se conheciam na hora do casamento. No caso de meus pais foi diferente, pois o irmão de Papai já era casado com a irmã de Mamãe. Mas ele contava que meu avô era muito rigoroso e que, mesmo conhecendo a família, ele não concordou de imediato. Ele demorou para responder. Eles poderiam ter se casado antes da minha avó falecer.
A família de Papai trabalhou com extração de madeiras e a família de Mamãe, como colonos em cafezais e mais tarde como agricultores, no interior de São Paulo.
As duas famílias encontraram muitas dificuldades na adaptação e na sobrevivência, problemas na época da Segunda Guerra Mundial, como muitas outras famílias de imigrantes.
Como motorista de caminhão na época da Segunda Guerra Mundial, Papai teve muitas restrições por ser estrangeiro, como, por exemplo, na compra de combustível para transportar a carga.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil