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Tieko Fujiye

São Paulo / São Paulo - Brasil
62 anos, Professora e diretora de escola

De um lado a família Fujiye e de outro, a família Sekiguchi


Quando a família do meu pai chegou ao Brasil, vindo de Hokkaido, eles partiram de Santos para o Estado do Pará, em Belém, Tomé Açu, onde permaneceram durante alguns anos. Trabalharam com extração de madeira e sofreram muito com a malária. Meu tio Kimpei faleceu lá. Vovó sofreu muito nessa região.

Papai contava que as famílias de imigrantes tiveram o apoio de padres da região e de um advogado, o Dr. Álvaro Adolpho, com o qual papai aprendeu muito a lidar com as leis brasileiras. Como o meu avô não falava português, papai servia de intérprete, mas ele dizia que também não compreendia muito bem, pois no Brasil, as leis eram muito diferentes.

Os costumes eram bem diferentes naquela região. O clima também era. Onde eles moravam no Japão, havia frio intenso. Papai se lembrava do tempo em que esquiava. Naquela época, ele era ainda criança, tudo parecia bonito. Ele brincava muito, enquanto o vovô e meus tios trabalhavam.

Na escola da região, ele estudou até a terceira série. Ele concluiu a quarta série na escola João Kopke, em São Paulo. As dificuldades de aprendizagem da nova língua eram muito grandes, mas com a dedicação dos professores, os imigrantes conseguiram aprender o idioma (apesar dos membros de cada família conversarem entre si em japonês).

Após o falecimento do meu tio Kimpei, a família mudou-se para São Paulo, no município de São Bernardo do Campo, no bairro de Mizuhô. Depois foram para o município de Tapiraí, em São Paulo, quando meu avô comprou terras.

Eu sempre ouvia Papai contar que conhecera a mamãe antes do meu tio casar-se com a minha tia. Em 1940, ele conheceu a Mamãe e pensou que ela fosse casada, pois ela estava com um bebê no colo. Mais tarde ele descobriu que a minha mãe era solteira. A mãe do bebê era a irmã dela. A minha avó, a minha mãe e a minha tia tinham ido fazer o registro de estrangeiro e, como elas não falavam a língua portuguesa, o responsável chamou meu Pai, pois não entendiam o que estavam falando.

Na época em que meus pais se casaram, era comum o casamento por apresentação (omiai), onde uma pessoa conhecida da família procurava a família da moça para apresentar a proposta. Muitos noivos só se conheciam na hora do casamento. No caso de meus pais foi diferente, pois o irmão de Papai já era casado com a irmã de Mamãe. Mas ele contava que meu avô era muito rigoroso e que, mesmo conhecendo a família, ele não concordou de imediato. Ele demorou para responder. Eles poderiam ter se casado antes da minha avó falecer.

A família de Papai trabalhou com extração de madeiras e a família de Mamãe, como colonos em cafezais e mais tarde como agricultores, no interior de São Paulo.

As duas famílias encontraram muitas dificuldades na adaptação e na sobrevivência, problemas na época da Segunda Guerra Mundial, como muitas outras famílias de imigrantes.

Como motorista de caminhão na época da Segunda Guerra Mundial, Papai teve muitas restrições por ser estrangeiro, como, por exemplo, na compra de combustível para transportar a carga.


Enviada em: 18/12/2007 | Última modificação: 17/01/2008
 
Meu pai veio de Hokkaido e minha mãe, de Shizuoka »

 

Comentários

  1. Sílvio Sano @ 9 Jan, 2008 : 12:11
    Tieko, traz um fato que não era tão incomum assim no meio da comunidade, em que o pai, mesmo tendo nascido no Japão e vindo, aos 8 anos de idade, para o Brasil, considerava-se mais brasileiro do que japonês, apesar de o mesmo não ocorrer com a mãe. Mas isso, somados aos decretos de Getúlio Vargas, na época da 2ª Guerra, proibindo o uso de língua estrangeira no país e o fato de se morar em localidades que não tenham a presença da comunidade, acaba justificando o desconhecimento da língua por parte de muitos descendentes, não apenas das novas gerações. Imagine em relação à cultura daquele país. Então, esse clima do momento, devido à comemoração do centenário, acaba trazendo a reflexão sobre a importância de se conhecer as próprias raízes, conforme pode se observar em vários comentários, principalmente de jovens, neste site.

  2. Richard Seitty Takahashi @ 24 Mar, 2008 : 21:31
    Durante muitos anos, meus tios, avô e mãe contaram diversas histórias e acontecimentos passados pela família Fujiye, porém nunca com tamanho detalhamento. Fico feliz com a realização do projeto porque além de registrar a história de parte da minha família, pude conhecer fatos que não conhecia e adquirir uma nova visão sobre a época em que ainda não era nascido.

  3. Tizuru Fujiye Takahashi @ 24 Mar, 2008 : 21:57
    O relato nos mostra as recordações e lembranças sobre nossa família. Fiquei muito emocionada ao ler cada texto dos quais alguns nem conhecia. Vale lembrar que somos "kibishii", fortes, íntegros, leais com o nosso próximo e isso foi a melhor herança que tivemos da família.

  4. Jessica Emilly Takahashi @ 6 Abr, 2008 : 20:13
    Lembro-me que no oshougatsu meu ditian contava muitas histórias, sobre sua vinda ao Brasil, infância, adolescência. Duas das histórias que ele sempre repetia era de quando estava no Belém do Pará , lá só havia manga e mamão para comer: conserva de mamão, doce de manga, okasu de mamão verde... e a outra de quando estava na 4ª série e ainda não entendendo bem o português, acabou entrando na catequese por engano e por isso sabia todos os mandamentos, orações do Catolicismo apesar de ser budista. Relembrar as histórias de família, faz com que eu sinta a presença de antepassados tão queridos que já se foram.

  5. Roberto Silva Martins @ 1 Set, 2008 : 16:13
    Tenho certeza que a Tieko consiguirá atingir todas as suas metas e objetivos na vida, pois é ser humano fantástico e merece ter sucesso em tudo que estiver trabalhando em prol de outras pessoas. Parabéns Tieko por tudo, e obrigado por eu estar trabalhando juntamente com você. De seu amigo Roberto, educador universitário.

  6. Sandra, Shigueo e Shoiti @ 4 Set, 2008 : 10:35
    Tieko San, Deus do céu comtemplou o intento do teu coração ainda menina e viu Deus que era bom. Guiou-te e prosperou a tua jornada e hoje desfrutamos desta benção que é ter filhos em uma escola onde você Tieko San é diretora e tem dirigido o que Deus confiou em tuas mãos com responsabilidade, dedicação amor e muito carinho. A tua família é linda, amamos a tua foto com um aninho de idade. Te desejamos felicidades e riquezas celestiais para sempre.

  7. Tieko @ 21 Out, 2008 : 17:10
    Sandra, Shigueo e Shoiti, depende do olhar de cada um, eu que agradeço a confiança depositada por muitos dos pais da nossa escola, que acreditam que a base de uma boa formação é dada principalmente pela escola pública.

  8. Mario Katsuhiko Kimura @ 27 Abr, 2009 : 19:14
    Tieko Fujiye-senssei, Li todas as historias por você contadas, narrativas de sua vida, de seus ancestrais, historias de vida vitoriosa, suplantando-se inclusive de tabus, de menina quieta introvertida transformada em profissional de ensino de sucesso e de respeito. Meus cumprimentos pela vida vitoriosa, pela sua transparência, sua bondade em saber reconhecer os apoios dos antepassados, dos pares, dos amigos, prestando-lhes as homenagens. Você é um exemplo a ser seguido, verdadeira mestre. Parabéns pelos serviços prestados à comunidade brasileira e nikei a frente da escola em que dirige, sentimo-nos orgulhosos da ilustre representante da colônia japonesa no Brasil. Continue a escrever outras historias para que os leitores como eu possam deliciar-se e aprender e a reaprender. Saúde, paz e sucesso.

  9. Silvio Sano @ 30 Mai, 2009 : 06:44
    Tieko-sensei, mais uma vez, parabéns pela inauguração do jardim oriental da EE Anna Pontes de Toledo Natali, da qual é diretora, mas, principalmente, por ter colocado o vídeo referente ao mesmo neste site. Um grande abraço a todo o corpo docente da Anna, bem como ao discente, com o qual acabei também tendo contato direto e agradável.

  10. Christiani @ 13 Jun, 2009 : 13:21
    Tieko, como você, também sou professora e trabalho em uma escola da rede municipal de São Carlos e estou desenvolvendo um projeto que resgata história e a cultura japonesa presentes em nosso país. Um dos objetivos é resgatar as brincadeiras japonesas e tem como um dos eixos a correspondência por email. Você pode me ajudar? Se entrar em contato poderei dar mais detalhes sobre o projeto, meu email é christiani.silva@yahoo.com.br Aguardo anciosa por uma resposta! Um grande abaço!

  11. juba @ 16 Jun, 2009 : 11:53
    Eu aprendi q os Japoneses estavam com muitas dificuldades no país, e em São Paulo tinha uma fabrica de café, então eles chamaram o povo Japones para trabalhar lá,então o Brasil e o Japão fizeram uma aliança.E lá em São Paulo,tem no Brasil. o maior número de japoneses.

  12. Ivone Aparecida Vincenzi @ 26 Jun, 2009 : 08:08
    Sou descendente de português por parte de mãe e italiano por parte de pai. Como seus avós os meus também vieram para trabalhar nas lavouras. Tive a oportunidade de conhecer mais sobre a cultura japonesa por meu municipio, Arujá, ter incluido durante as festividades de comemoração do centenário, este tema para o desfile cívico. Os alunos da rede municipal aprenderam muito sobre a vida e costumes desta cultura tão bonita. Parabéns pelo seu trabalho e dedicação são pessoas como você dedicadas que nossa educação necessita. Através de seu perfil consegui relembrar muitos fatos de nossa infância. Um grande abraço!

  13. Tieko Fujiye @ 29 Jun, 2009 : 05:32
    Ivone, a impressão que dá quando relembramos da nossa infância e parte da adolescência na EE Prof. Caetano Miele é que o tempo não passou, ou seja, a relação de amizade criada naquela época ultrapassou o tempo e a distância. Obrigada pelo comentário e acredito que pela formação que recebemos da escola pública e de nossos pais, certamente, você também é uma profissional dedicada e seu alunos têm muito que aprender com você que foi pesquisar e me achou neste site. Um grande abraço!

  14. Marcia Hatimondi @ 18 Mar, 2010 : 17:17
    Olá Tieko........sempre achei dificil encontrar alguem com o mesmo sobrenome que o meu..........e vi que vc mencionou Hatimondi entre seus familiares......mesmo aqui no Japão onde vivo há anos eles acham estranho e as vezes dizem que é mesurashi rsrsrsr enfim...se vc puder me informar algo sobre esse sobrenome ficarei muito feliz....abraços

  15. Marcia Hatimondi @ 18 Mar, 2010 : 17:18
    ops..... meu e-mail marcia_hsa@hotmail.com

  16. ivani @ 12 Ago, 2010 : 18:12
    ola tieko parabens pelo trabalho que voce faz na escola anna pontes que Deus te abençoe beijos...

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