Conte sua história › Ricardo Mizusaki Katayama › Minha história
Pra quem leu meus outros posts (ou pra quem já me conhece), já é obvio que minha relação com a comida é diferente da dos outros. Especial. Saborosa. Frugal. Alguns diriam que até compulsiva. Taí minha barriga para comprovar.
Mas Freud explica, devo ter tido algum problema na fase oral!
O que nem todo mundo percebe é que a relação com qualquer coisa besta, contidiana, pode trazer grandes aprendizados. Basta adicionar a esta relação uma situação traumatizante e um tanto de simbolismo pra te dar uma bela de uma epifania sobre sua vida.
Para os mais espertos, o processo é simples e rápido. Para mim, levou uns 15 anos!
Quando criança, pouco comia além de peixe, arroz, feijão, batata e macarrão. Coisa de criança fresca. Dizia minha mãe que tinha sangue de barata, porque não comia carne.
Mas isso não durou muito não. No primeiro espinho de peixe atravessado na garganta, fui aos prantos à primeira consulta médica que não com meu pediatra.
O fato me marcou tanto que parei de comer peixe. E, depois de um tempo, o gosto e o cheiro de peixe começaram a me ser insuportáveis. E dá-lhe batian dizendo “come peixe, Rica, peixe oishi!”. Meu pai chegou ao extremo de oferecer dinheiro para me ver comendo sashimi.
Eis que, de repente, o tal do peixe crú virou febre. E os rodízios. E o salmão. Como de yakisoba ninguém sobrevive, há uns 2, 3 anos, comecei a me sentir culpado por não exercer a minha niponicidade gastronômica.
Tomei coragem e pensei: “posso sim gostar disso”.
Pois é.
Hoje, não passo uma semana sem comer um bom japonês – ambigüidades a parte.
E aprendi que só gostamos daquilo que queremos gostar.
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Este projeto tem a parceria da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil